A piora no cenário externo, causada pela eleição parlamentar na Itália, se somou a declarações do ministro da Fazenda, Guido Mantega, para alimentar a volatilidade no mercado de câmbio. O resultado foi uma alta de 0,46% no valor da moeda, que alcançou R$ 1,986, maior cotação em três semanas.
A eleição italiana indicou fortalecimento do ex-premiê Silvio Berlusconi e alimentou o temor de retrocesso nas medidas de austeridade do país, colocando em risco a recuperação europeia. O euro voltou a cair e a moeda americana subiu ante seus principais pares. "Está difícil o mercado se dissociar do estresse externo", disse Silvio Campos Neto, economista da Tendências Consultoria. Para ele, o quadro externo ontem teve mais influência que a fala de Guido Mantega.
Em evento em Nova York, o ministro da Fazenda disse que a taxa cambial agora está em patamar mais equilibrado e que o Banco Central não permitirá que o real se valorize excessivamente ante o dólar. Ele reiterou que o câmbio é flutuante e que as ações do governo visam reduzir excessos de volatilidade nesse mercado.
Apesar da fala moderada do ministro, operadores projetam mais volatilidade nesta semana. Além do quadro externo, o mercado tem vencimento de quase US$ 3 bilhões em contratos de linha, na sexta-feira, quando vencem ainda derivativos cambiais para março na BM&F. Segundo um profissional de um banco, a alta do dólar também refletiu as movimentações de investidores na BM&F, especialmente fundos que carregam posição comprada de mais de US$ 12,5 bilhões, e a expectativa pelo vencimento de contratos de linha.
A taxa Ptax da quinta-feira será utilizada como referência nos contratos de derivativos de março. Até lá, deve continuar a disputa entre aqueles que apostam na alta do dólar (comprados) e os que preferem a baixa (vendidos). Enquanto os fundos têm posição comprada em derivativos cambiais, bancos e investidores estrangeiros têm posições vendidas líquidas de US$ 4,6 bilhões e US$ 6 bilhões, respectivamente.
A expectativa é que o BC não intervenha no câmbio nesta semana, por causa da volatilidade, afirma Campos Neto, da Tendências. Para ele, a autarquia só volta a atuar após passada a turbulência desses dias, e caso a volatilidade persista. "O mercado interpretou a faixa entre R$ 1,95 e R$ 2 como o novo patamar de conforto", disse. "É normal que a moeda fique oscilando nesse intervalo."
No mercado de juros, as taxas negociadas na BM&F fecharam em queda pela segunda sessão seguida, influenciadas pelo avanço da taxa de desemprego apurada pelo IBGE mais forte que o esperado, pela quinta queda seguida da confiança do consumidor medida pela FGV, pela desaceleração da inflação medida pelo IPC-S e pela retração do rendimento dos títulos do governo americano no exterior.
Apesar dos ajustes, a projeção dos juros na BM&F ainda segue acima de patamares de duas semanas atrás, mostrando que as apostas em alta da Selic em abril permanecem no radar dos investidores, embora não sejam majoritárias. Para o encontro do Copom da semana que vem, nos dias 5 e 6 de março, a expectativa fica mais por conta da ata do que pela decisão, cuja aposta predominante é a de manutenção da Selic em 7,25% anuais.
"O BC poderia condicionar o "suficientemente prolongado" a alguma coisa, como à queda de inflação", disse o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal. A partir daí, o risco de o BC iniciar um ciclo de aperto monetário é expressivo e, por isso, as projeções já embutem como provável uma alta de 0,25 ponto percentual na Selic nas reuniões a partir de abril.