Já políticos veem com cautela a proposta, que está presente no novo livro de Edmar Bacha, "Belíndia 2.0"
RIO e BRASÍLIA Economistas aprovaram a sugestão do economista Edmar Bacha de incluir uma meta de inflação de longo prazo na Constituição, mas políticos foram mais cautelosos em acolher a proposta. Na defesa, acredita-se que é preciso garantir inflação baixa para juros no menor nível histórico. Já os políticos consideram que outras reformas são prioritárias e que o momento atual de crise não é adequado.
- Ainda temos mecanismos que perpetuam uma inflação elevada. Para perpetuar juros baixos, é preciso garantir inflação mais baixa - afirmou o professor da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha, aprovando a discussão proposta por Bacha.
Para a diretora do Iepe/Casa das Garças, Monica de Bolle, em momentos de turbulência é importante estabelecer compromisso de longo prazo com controle de preços:
- É compreensível que se aceite inflação mais alta a curto e médio prazo, mas é preciso avaliar até onde isso vai e evitar o risco de um retrocesso.
Em reportagem publicada ontem no GLOBO, a ideia de Bacha também está no livro "Belíndia 2.0 - Fábulas e ensaios sobre o país dos contrastes" (Civilização Brasileira), que será lançado hoje na Livraria da Travessa, no Leblon.
O líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves (RN), disse entender a preocupação, mas discorda de se incluir metas de inflação na Constituição. Ele lembrou que já se tentou metas para juro.
- Existe essa consciência desde o governo Fernando Henrique, e continuou no governo Lula. Para ser mais justo, o processo começou com Fernando Collor e continua com Dilma Rousseff - disse.
Para o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), somente será possível estabelecer meta na lei após um conjunto de reformas, como tributária, revisão do pacto federativo e redução da burocracia:
- As reformas são necessárias, sem elas teremos dificuldades de estabelecer metas na Constituição.
O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) destacou o atual momento de crise global:
- Qualquer mecanismo de retenção orçamentária pode causar a desaceleração do crescimento. É óbvio que a inflação é sempre uma preocupação, mas o foco central deve ser a atividade econômica.