Os economistas receberam sem surpresa o anúncio da prorrogação do IPI reduzido até o fim do ano após a forte queda das vendas de automóveis e comerciais leves em setembro e a indicação, a partir da primeira quinzena de outubro, de que o mês atual não vai repetir o pico de mais de 405 mil unidades vendidas atingido em agosto. Garantido até 31 de dezembro, o benefício fiscal tirou entre 0,2 e 0,3 ponto percentual da inflação em 2012, segundo analistas, e foi o principal responsável pela retomada da atividade no terceiro trimestre. Para os últimos três meses, mesmo com o corte do imposto ainda em vigor, contudo, a expectativa de resultados mais modestos no setor não foi alterada.
Desde junho, primeiro mês com impacto do IPI menor nos preços, Fabio Ramos, da Quest Investimentos, observa que os carros novos recuaram 5,2% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o que reduziu a inflação acumulada no ano em cerca de 0,3 ponto percentual, de acordo com o analista. Caso o benefício fiscal não fosse estendido, diz, os preços iriam subir entre 5% e 7% até o fim do ano, anulando esse impacto de baixa. Como o incentivo foi prorrogado, no entanto, ele manteve sua estimativa de alta de 5,5% para o IPCA em 2012.
Cálculos dessazonalizados pela Votorantim Corretora com base em dados da Fenabrave, entidade que reúne as concessionárias no país, mostram queda de 1% das vendas nos primeiros 15 dias de outubro sobre igual período de setembro. No mês passado, também descontados os efeitos sazonais, as vendas haviam encolhido 19% sobre agosto. O economista Alexandre Andrade pondera que os números costumam ser mais fortes na segunda quinzena, mas projeta queda de 0,4% no consumo de carros em relação a setembro.
Mesmo com o incentivo fiscal prorrogado, diz Andrade, a tendência é que o ritmo de avanço das vendas perca fôlego no último trimestre, sem os picos observados em junho e agosto, cenário que colocou viés de baixa em sua projeção de 1,4% para o avanço do PIB no período em relação ao trimestre anterior. Para a média do ano, a corretora continua trabalhando com alta de 1,5% frente a 2011.
Para Thiago Curado, da Tendências, a decisão do governo foi tomada tendo em vista a possibilidade de que o PIB não cresça 1,5% neste ano, estimativa da consultoria. "Renovar a redução do IPI ajuda a minimizar esse risco", diz Curado, que também não alterou sua previsão de 5,4% para o aumento do IPCA em 2012. Segundo seus cálculos, se o governo tivesse decidido acabar com o desconto no IPI, os reflexos sobre os preços se estenderiam até 2013, aumentando a inflação em 0,2 ponto percentual neste ano e 0,1 ponto no próximo.
Fabio Romão, da LCA Consultores, nota que 2012 será o quinto ano seguido de deflação em automóveis, tanto novos como usados, independentemente de cortes no IPI. Na média anual entre 2008 e 2011, a queda em carros novos e usados foi de 2,4% e 5,4%, respectivamente, calcula Romão. Caso esse padrão fosse repetido, ele afirma que o IPCA acumularia alta de 5,7% em 2012, e não de 5,5%. Devido ao corte do imposto, os preços de veículos novos vão recuar 5,8% este ano e os de usados, 10%, de acordo com estimativas da LCA.