Apesar da queda de 18% do fluxo global de investimento estrangeiro direto (IED) em 2012, a primeira após três anos de recuperação, o Brasil sofreu menos com essa retração. Em 2012, o país recebeu US$ 65 bilhões em investimentos produtivos, 2% a menos do que em 2011. Esse fluxo levou o Brasil a subir uma posição, para o quarto lugar, entre os principais receptores de investimento direto, atrás apenas de Estados Unidos, China e Hong Kong.
As informações são do "Relatório de Investimento Mundial de 2013", da Conferência das Nações Unidas para Comércio e Desenvolvimento (Unctad). O estudo foi divulgado em parceria com a Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet) no Brasil.
Embora permaneça como um destino importante para fluxos de capitais produtivos, o país continua a diminuir a presença em mercados externos. Enquanto as economias emergentes aumentaram sua participação como origem de investimento direto no ano passado e já são fonte de 30,6% do fluxo global de investimentos produtivos transnacionais, as empresas brasileiras reduziram em US$ 3 bilhões seus investimentos no exterior no ano passado.
Desde 2009, o processo de internacionalização de companhias domésticas encontra-se estagnado, enquanto a China, por exemplo, passou do sexto para o terceiro lugar no ranking dos maiores investidores, atrás apenas de Estados Unidos e Japão.
Para Luis Afonso Lima, presidente da Sobeet, dois pontos ajudam a explicar a dificuldade das empresas brasileiras em se internacionalizar. O primeiro se dá pela competição acirrada nos mercados externos, o que torna o ambiente difícil para abertura de filiais no exterior. "A tributação também é um entrave, já que o capital é taxado quando é repatriado para o Brasil", diz.
Antonio Corrêa de Lacerda, professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e membro do conselho da Sobeet, afirma que o mercado de consumo interno em expansão também prejudicou a abertura de operações brasileiras no exterior. "As regiões de crescimento mais forte, como Centro-Oeste e Nordeste, já exigiram esforço importante das empresas nacionais para conseguir atender esses mercados."
Apesar dos sinais de desaquecimento da demanda interna, Lima não avalia que esse movimento irá se reverter. "A internacionalização não faz parte da cultura das empresas brasileiras e a maioria das companhias que buscou esse caminho fez isso por causa da necessidade de produção de recursos, como Vale e Petrobras ".
Os países emergentes também ganharam participação como destino dos investimentos produtivos. No ano passado, o fluxo de entrada de investimento estrangeiro direto global caiu 18%, para US$ 1,35 trilhão, mas uma parcela maior, de 52%, foi absorvida por economias em desenvolvimento, segundo a Unctad. O Brasil aumentou de 4% para 4,8% sua participação nesses fluxos no período.
O recuo de 2% do investimento direto para o Brasil foi semelhante ao desempenho da China, e a queda foi menor do que em outros emergentes, como Turquia (-23%), África do Sul (-24%) e México (-41%). "Embora a percepção geral seja de que a confiança dos investidores estrangeiros com o Brasil tenha diminuído, os dados de IED ainda não dão indicação neste sentido", diz Lima, da Sobeet.
Em sua opinião, os fluxos para o Brasil devem continuar elevados em 2013. A Sobeet, afirma Lima, começou o ano com projeção de saldo líquido de US$ 55 bilhões de investimento direto em 2013, mas deve elevar esta estimativa em função dos recursos que ingressaram no país nos cinco primeiros meses deste ano. No acumulado em 12 meses até maio, o Brasil acumulou saldo de US$ 64,2 bilhões em IED. "Um número em torno de US$ 60 bilhões como projeção para 2013 hoje parece mais provável."
Alexandre Comin, diretor do Departamento de Competitividade industrial do Ministério do Desenvolvimento, avalia que os sinais são de que o investimento está em processo de recuperação e não descarta que o investimento direto supere US$ 60 bilhões neste ano, embora faça a ressalva de que as últimas duas semanas - devido aos protestos realizados em diversas cidades brasileiras -, adicionaram incerteza ao cenário.
O Brasil sofreu menos, avalia Lima, da Sobeet, porque os investimentos produtivos transnacionais têm característica "inercial", e por isso o país ainda se beneficia dos anos de maior crescimento no passado. No longo prazo, porém, diz ele, o Brasil pode perder posições no ranking dos principais destinos do investimento direto, se continuar a perder competitividade.
Ainda assim, de acordo com pesquisa da Unctad, realizada com 159 empresas, o Brasil continua a ocupar a quinta posição entre as economias com potencial para recepção de investimento estrangeiro direto entre 2013 e 2015.