O tombo do minério preocupa e as dificuldades enfrentadas no mercado de aço também, mas os analistas confiam na boa governança de Vale, Samarco e ArcelorMittal. Não creem em impactos mais graves dentro do Espírito Santo causados por essas turbulências, até porque, o dólar valorizado beneficia o caixa delas.
Se há problema, ele atende pelo nome de Petrobras. Pelo o que a indústria do petróleo já representa na economia do Estado e pelo volume de investimentos sendo tocados ou prestes a saírem do papel, os impactos da seguinte conjunção de fatores – desvalorização do petróleo e o desgoverno em que se meteu a estatal – podem ser desastrosos para a economia local.
A primeira pancada virá na arrecadação de royalties. Em 2013, o governo do Estado recebeu R$ 1,56 bilhão provenientes de royalties e participações especiais. Os 78 municípios juntos receberam outros R$ 977,3 milhões. Ou seja, uma injeção R$ 2,5 bilhões nos cofres públicos do Espírito Santo. Como o valor dos repasses está diretamente ligado ao preço do barril, Estado e municípios vão penar.
De acordo com a Secretaria da Fazenda, os royalties a serem recebidos pelo Estado em janeiro devem ficar em R$ 60 milhões, queda de 18% em relação aos R$ 73,5 milhões que entraram em dezembro. Em relação às participações especiais (pagamento feito trimestralmente), o recuo deve superar os 20%, de R$ 253 milhões para R$ 200 milhões.
“Claro que preocupa. Trata-se de uma fonte de receita que ganhou muita importância, tanto para Estado como para municípios, de 2010 para cá”, assinala Orlando Caliman, ex-secretário estadual de Fazenda e Planejamento.
Desmobilização
O segundo e mais grave impacto pode vir pelo lado da desmobilização econômica. José Teófilo Oliveira, ex-secretário da Fazenda, diz que uma crise de preços sempre gera impactos negativos, mas que, na maioria dos casos, são passageiros. O problema é a prolongação disso e a dificuldade em buscar alternativas, que é o caso da Petrobras
“Temos empresas muito grandes numa economia que não é tão grande assim. Arcelor, Petrobras, Vale, Fibria (que não passa pelo problema de queda nos preços da celulose) e Samarco representam 1/3 do nosso PIB. Quando há uma queda de preços, cai a receita e há um aperto no caixa. Quando o caixa aperta, investimentos e gastos recuam, ou seja, é o aperto das grandes se espalhando por toda a economia. Isso impactará o desempenho do PIB capixaba, mas Arcelor, Samarco e Vale encontrarão boas soluções”.
Com relação à Petrobras, entretanto, Teófilo demonstra grande preocupação. “Claro que não é o mundo ideal, mas com o barril em US$ 60, o pré-sal ainda é viável. A questão é a empresa, ela sim está inviabilizada. Esse modelo de partilha colocou a Petrobras como sócia de todos os campos do pré-sal (com pelo menos 30% do campo). Como os investimentos sairão se um dos sócios encontra-se numa dificuldade dramática de caixa e no meio de uma bagunça administrativa? Mesmo com o petróleo em US$ 100 a situação seria ruim”.
Petrobras põe aportes bilionários em xeque
A expectativa do governo do Estado é de que, nos próximos cinco anos, o Espírito Santo receba R$ 120 bilhões em investimentos. Metade disso, R$ 60 bilhões, virá da indústria do petróleo. Esse número dá o tom de como essa queda no preço do barril de óleo e a grave crise por que passa a Petrobras podem ser danosas ao futuro do Estado.
Cinco dos sete portos projetados para serem construídos ao longo da costa capixaba nos próximos anos estão intimamente ligados à exploração de óleo e gás. Uma série de outros empreendimentos – o caso mais emblemático é o Estaleiro Jurong Aracruz – só saíram ou sairão do papel por conta das necessidades da indústria do petróleo.
“A conjuntura de hoje, de petróleo mais barato e Petrobras em crise, é muito ruim. Claro que nenhum desses projetos foi pensado visando o curto prazo, mas certamente traz uma insegurança”, pondera o ex-secretário da Fazenda José Teófilo Oliveira.
Orlando Caliman, ex-secretário estadual de Fazenda e Planejamento, faz análise semelhante. “Podemos assistir a uma série de postergações e até desistências. São projetos de centenas de milhões de dólares, alguns de bilhões, ninguém tira esse dinheiro do bolso em caso de dúvida. Toda essa rede de fornecedores que vinha ganhando musculatura no Estado pode dar uma freada”.
Ele enxerga com muita preocupação essa possibilidade. “Quando os investimentos caem, perde-se capacidade de operação lá na frente. Pensando no curto prazo, é uma situação que desmobiliza toda uma cadeia de fornecimento. Isso vai se espalhando, de pouquinho em pouquinho, por toda a economia, o que é muito ruim. A economia vai perdendo seu vigor”.
Barril em US$ 40
Depois de anos rodando no patamar de US$ 100, o preço do barril de petróleo despencou para o patamar dos US$ 50. Algumas consultorias, como a Morgan Stanley e a Capital Economics, já começam a especular sobre a possibilidade de um petróleo estabilizado na casa dos US$ 40, o que complicaria ainda mais a vida da Petrobras.
Para se ter uma ideia do potencial da mudança, US$ 45 é o valor mínimo que, nos cálculos da Petrobras, viabilizaria os investimentos no pré-sal.
Entre as razões para a queda dos preços da commoditie está o aumento da produção de gás e petróleo de xisto nos EUA. Também contribui a decisão tomada no mês passado pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) de não reduzir sua produção.
Os membros da Opep, a Arábia Saudita principalmente, querem testar até onde vai a competitividade dos produtores de combustível não convencional (principalmente xisto e pré-sal), ou seja, até que faixa de preço eles conseguem continuar aumentando sua produção tendo em vista que seus custos são maiores.
Diante deste cenário, são muitos os percalços e interrogações no horizonte da Petrobras e também no do Espírito Santo.
Fonte: Gazeta OnLine