A melhora do cenário externo não fez preço na bolsa brasileira. A crise na Europa deu uma trégua e o indicador de vendas pendentes de imóveis nos Estados Unidos avançou quase 6% em maio em relação a abril, o que impulsionou as bolsas americanas. Mas os investidores encontraram dor de cabeça suficiente por aqui para fazer a Bovespa descolar de Wall Street.
O problema foi a decepção do mercado com o comunicado da OGX, empresa de petróleo de Eike Batista, sobre a produção do campo de Tubarão Azul (antigo Waimea). O Bank of America Merrill Lynch (BofA) reduziu a recomendação para as ações, de neutra para "underperform" (abaixo da média do mercado). O preço-alvo despencou de R$ 19,50 para R$ 7,30 por ação. A vazão estimada, de 5 mil barris de óleo equivalente por dia, foi considerada "desapontadora", e acontece após cinco meses de testes de longa duração.
"Nós vemos o fato como um grande desapontamento, que provavelmente terá um efeito de longo prazo na valorização da OGX", afirmaram os analistas do banco. A notícia afetou todas as empresas "X", gerando uma onda de ceticismo sobre os projetos das demais companhias de Eike, muitas em estágio pré-operacional, ou seja, "apenas uma apresentação feita em um programa de computador", na visão de analistas e operadores.
OGX ON derreteu 25,32%, para R$ 6,25, seguida por LLX ON (-7,46%) e MMX ON (-6,94%) - as três foram as maiores baixas do Ibovespa. Também caíram MPX ON (-7,68%), OSX ON (-12,57%), Port X ON (-6,73%) e CCX ON (-3,91%). O valor de mercado das empresas do grupo EBX encolheu 18%, ou R$ 8,252 bilhões, para R$ 37,443 bilhões.
E como as companhias "X" eram "queridinhas" dos estrangeiros, esses investidores bateram em retirada da Bovespa. Apenas OGX girou mais de R$ 1 bilhão, ou um sexto de todo o volume da bolsa, que alcançou R$ 5,953 bilhões. O tamanho do estrago no fluxo de capital externo será conhecido amanhã, quando a BM&FBovespa divulgará o balanço de compras e vendas de ações no pregão de ontem. Até segunda-feira (25), o saldo acumulado em junho estava negativo em R$ 397 milhões, uma saída modesta perto dos R$ 2,9 bilhões que os estrangeiros tiraram da bolsa no mês passado.
Mas o grupo de Eike não foi a única notícia a mexer com a Bovespa ontem. A Vale anunciou que obteve licença ambiental para explorar minério de ferro na Serra Sul de Carajás, o maior projeto da história da companhia. As ações, no entanto, encerraram em leve baixa de 0,23%.
E o governo anunciou um novo pacote de incentivos à economia, com a compra de mais de R$ 8,4 bilhões em equipamentos, como retroescavadeiras, caminhões, ambulâncias e ônibus escolares. A notícia impulsionou as ações PN da fabricantes de ônibus Marcopolo (6,28%) e da fabricante de carrocerias para caminhões Randon (3,09%).
O Ibovespa encerrou em baixa de 1,35%, mas sustentou os 53 mil pontos, apesar de Petrobras PN ter acelerado a baixa nos últimos minutos do pregão, encerrando com perda de 2%, para R$ 17,64. "O fato é que o mal-estar provocado pela OGX contaminou outros papéis da bolsa", avalia o estrategista da SLW Corretora, Pedro Galdi.
Se o campo negativo do índice foi dominado pelas empresas "X", na outra ponta figuraram Braskem PNA (3,42%), Pão de Açúcar PN (2,34%) e Embraer ON (2,33%). A fábrica de aviões afirmou que a Boeing vai ajudá-la a desenvolver o KC-90, um modelo militar de transporte com o qual pretende competir com o C-130, da americana Lockheed.
Fora do Ibovespa, destaque para Suzano Papel PNA, que caiu 7,5%, para R$ 4,07. Seria definido ontem, após o fechamento do mercado, o preço de sua oferta primária. A fabricante de papel e celulose pretende levantar pouco mais de R$ 1 bilhão para reduzir seu endividamento. Desde maio, quando a Suzano anunciou a oferta, as ações caíram 37,5%.