A Bovespa marcou ontem seu sexto dia de alta em sete pregões, acumulando ganhos de 7,2% desde o início desse ciclo de recuperação e reduzindo a perda no ano para 19,9%. O Ibovespa chegou a testar a linha dos 49 mil pontos, mas encerrou o dia ligeiramente abaixo desse patamar.
A aparente onda de otimismo que tomou conta do mercado local nos últimos dias é, na verdade, consequência da forte desvalorização da Bovespa na primeira metade do ano, dizem os especialistas. "A sensação é de que chegamos ao fundo do poço. Tudo de ruim já foi precificado", disse um operador.
O que ainda coloca em dúvida a sustentabilidade desse ciclo é o volume negociado, que continua cerca de 30% abaixo da média de junho, reflexo das férias de verão do hemisfério norte. Por outro lado, os estrangeiros estão reduzindo suas posições vendidas no mercado futuro e retomando lentamente as compras no mercado à vista.
No mercado futuro, a posição líquida dos estrangeiros caiu de 72,4 mil contratos de venda de Ibovespa Futuro na sexta para 64,1 mil ontem. Há dois meses, a posição vendida era mais que o dobro, na casa dos 150 mil contratos.
Porém, a redução na posição vendida dos estrangeiros no mercado futuro é consequência também de outro fato: a retirada do IOF sobre operações desse investidor no mercado de renda fixa.
Desta forma, o estrangeiro deixou de fazer operações de financiamento com índice futuro na bolsa, que funcionam como aplicação de renda fixa, para investir diretamente na modalidade. Números divulgados pelo Banco Central (BC) comprovam o fato.
Em junho, os estrangeiros destinaram US$ 7,196 bilhões à renda fixa. Ao mesmo tempo, tiraram do mercado de ações US$ 3,684 bilhões, em números líquidos, indicando que houve migração de recursos entre as duas modalidades.
O chefe do departamento econômico do BC, Tulio Maciel, confirmou que a retirada, no início de junho, da alíquota do IOF sobre renda fixa para estrangeiros, que estava em 6% ao ano, influenciou os números. Ainda segundo o BC, nos primeiros 19 dias de julho, os estrangeiros aplicaram US$ 1,747 bilhão em títulos de renda fixa no país. Por outro lado, a bolsa atraiu um fluxo, ainda que modesto, de US$ 172 milhões nesse período.
Pelos dados da BM&FBovespa, na última sexta-feira (19) o saldo líquido de capital externo voltou a ficar levemente positivo em julho, em R$ 4 milhões, com a entrada de R$ 17,560 milhões naquele dia. O fluxo estava positivo até 23 de maio, quando fechou em R$ 45,125 milhões. Desde então, virou e passou a ser negativo no acúmulo mensal até agora. Só houve um respiro no primeiro dia de julho, quando houve uma entrada de R$ 152,455 milhões, rapidamente absorvida.
O cruzamento dos números do BC e da bolsa mostra que houve uma fuga de recursos da renda variável para a fixa em junho e no começo deste mês. Mas, ao que tudo indica, essa saída estancou.
"Os estrangeiros estão vendo que o mercado de ações brasileiro está muito defasado. Além disso, o governo está adotando medidas para tentar recuperar a credibilidade do país e garantir crescimento da economia de pelo menos 2% neste ano", avalia o estrategista da SLW Corretora, Pedro Galdi.
O estrategista do BB Investimentos, Hamilton Moreira Alves, lembra que o mercado passou a ter performance melhor a partir das sinalizações de que um aperto monetário nos Estados Unidos seria feito mais tarde. Essa melhora ocorreu a partir de 10 de julho, quando o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA), Ben Bernanke, deu entrevista após a reunião do comitê de política monetária, o Fomc.
Ontem, particularmente, a declaração do primeiro ministro chinês, Li-Keqiang, deu fôlego aos mercados na abertura dos negócios, especialmente aos emergentes. Ele afirmou que o governo irá garantir um crescimento superior a 7% neste ano, alimentando a expectativa por novos estímulos à economia chinesa.
O Ibovespa fechou em alta de 0,51%, aos 48.819 pontos, mas no melhor momento do dia chegou a marcar 49.379 pontos (1,65%). O volume financeiro somou R$ 5,619 bilhões, novamente abaixo da média de R$ 8 bilhões de junho.
Em Wall Street, assim como na Europa, os índices fecharam sem direção única. Mesmo assim, o Dow Jones alcançou, pela 28ª vez neste ano, recorde de fechamento, com alta de 0,14%, para 15.568 pontos. O S&P 500 recuou 0,21% e fechou aos 1.692 pontos. O Nasdaq caiu 0,59% e foi para 3.579 pontos. Na Europa, a bolsa de Londres caiu 0,39%, Paris recuou 0,43%, enquanto Madri teve alta de 1,35%.