O investidor estrangeiro tem mostrado aversão à Bovespa no segundo bimestre de 2012. Depois de entrar com força total em janeiro e fevereiro, iniciou retiradas em março, que se avolumaram neste começo deste mês.Para analistas, abril é uma incógnita e o sentimento externo será a chave para os fluxos de capital direcionados ao país nas próximas semanas.
A movimentação de capitais tem chamado a atenção dos especialistas, que começam a ressaltar as retiradas em relatórios diários. A saída de capital externo da Bovespa apenas nos quatro primeiros pregões de abril já supera o volume que deixou a bolsa brasileira em todo mês de março. Segundo a BM&FBovespa, o fluxo de investimento externo está negativo em R$ 1,306 bilhão neste mês até o dia 5, resultado de vendas de R$ 9,801 bilhões e compras de R$ 11,107 bilhões. No período, o Ibovespa caiu 1,27%.
Em março, o investidor estrangeiro retirou R$ 1,293 bilhão da bolsa. No acumulado de 2012, o saldo ainda é positivo, em R$ 3,473 bilhões. Vale ressaltar que o fluxo chegou a ficar positivo em R$ 7,168 bilhões no fim de janeiro. Em 2011, o movimento foi negativo em R$ 1,352 bilhão.
O Bank of America Merrill Lynch observou que, na semana passada em especial, os mercados emergentes foram a única região a registrar pequenas entradas de dinheiro dos fundos em ações (US$ 42 milhões). Mas, no Brasil, o movimento foi inverso: a retirada semanal foi a maior desde junho de 2009, e somou US$ 400 milhões. Os analistas do banco afirmaram ao Valor, diretamente dos EUA, que o índice MSCI Brasil caiu 6,7% em março, único país a reportar retornos negativos na América Latina.
"Como os fluxos tendem a acompanhar os retornos, os preços baixos das ações detonaram resgates de US$ 861 milhões de fundos de ações brasileiras nas últimas três semanas, sobretudo pelo EWZ (o fundo ETF que segue a performance do índice MSCI Brasil)." A menos que as preocupações em relação ao crescimento da China diminuam no curto prazo, os analistas do BofA não esperam fortes retornos de dinheiro para o Brasil em abril.
"O sentimento externo é crucial para os fluxos destinados ao Brasil neste momento", complementa o diretor da consultoria EPFR Global, Brad Durham.
O executivo lembra que os fluxos externos para o Brasil realmente dependem do sentimento geral para mercados emergentes, e a chave agora é saber se o movimento atual de retirada dos mercados globais de ações é um fenômeno temporário, uma correção de mercado, ou um fenômeno mais amplo de retração baseado em um retorno das preocupações em relação à deterioração da situação fiscal na Europa. "Acredito que estamos na primeira situação, e esperaria uma estabilização nos fluxos de fundos de ações em abril, contando talvez até com um retorno de dinheiro." Segundo ele, apesar de os fluxos para fundos de ações do Brasil estarem negativos em US$ 868 milhões no ano, essas mesmas carteiras ainda geram retornos impressionantes de 13% nos últimos doze meses.