Junho começou dramático para os fundos de ações. Não houve quem se salvasse - carteiras mais ou menos líquidas, indexadas ou não, setoriais ou gerais. Todos os tipos de fundos de ações registraram prejuízos maiores que 2% somente na primeira semana do mês. Quando se olha para o principal índice da bolsa brasileira pode-se até dizer que os gestores fizeram bonito. Na média, eles perderam menos do que o Ibovespa, que caiu 3,53% no período. E no ano em que o índice recua 15,31% até o dia 7, todos os tipos de carteiras de ações também estão no vermelho, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
A liberdade do gestor, ainda que não tenha sido suficiente para garantir retornos positivos na média, continua a ser um diferencial. No acumulado do ano até 7 de junho, as menores perdas, de 1,77%, ocorrem nos fundos ações livre, em que os gestores têm menos amarras na seleção de ativos. É deles também o maior ganho dentre todos os tipos de fundos nos últimos 12 meses, de 16,42%. As maiores perdas no ano, de 7,19%, e também nos últimos 12 meses, de 4,10%, estão nas carteiras que se concentram em ações de determinados setores.
Um acúmulo de fatores pesou contra a bolsa brasileira nas duas últimas semanas, diz Walter Mendes, sócio da gestora Cultinvest. No cenário internacional, começou a tomar corpo a intenção do governo americano de reduzir os estímulos à economia, dado um começo de recuperação do país. A expectativa de uma alta de juros nos EUA fez crescer o fluxo de recursos para o país, grande parte saindo dos mercados emergentes, inclusive do Brasil. "Ligaram o aspirador para sugar o dinheiro de volta. Esse é um processo que vem acontecendo desde o ano passado, mas que se acelerou muito nessas últimas semanas", diz Mendes.
Internamente, deu força ao movimento o fato de a agência de avaliação de risco Standard & Poor"s ter mudado a perspectiva para a economia brasileira de estável para negativa. Até o fim do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) para aplicações de estrangeiros em renda fixa jogou contra a bolsa. Isso porque levou estrangeiros a desmontarem intrincadas operações em bolsa que haviam criado para garantir um juro sem arcar com o custo do imposto, já que não há mais pedágio na renda fixa.
A esperança de Mendes é que o anúncio da S&P tenha disparado uma melhora de intenções, que leve o governo a tomar iniciativas no sentido de melhorar os fundamentos do país. "Bateu um certo alarme", afirma, referindo-se à expectativa de que seja anunciado nos próximos dias um pacote de medidas fiscais.
Em meio à queda generalizada, também podem ter surgido oportunidades em ativos, diz Mendes. Somadas a um dólar mais forte, considera, elas apontam para as empresas dos setores exportadores, que perderam muito valor nos últimos anos. É uma virada importante com relação ao ano passado, quando as empresas cíclicas, em geral de maior liquidez e com peso mais expressivo no Ibovespa, foram rejeitadas em favor das chamadas "small caps", mais ligadas ao cenário interno.
No ano passado, o Índice Small Cap avançou 29%. Neste ano perde 8,98% até 7 de junho. Ainda que seja menos do que o Ibovespa, é um sinal de novos tempos, em que os papéis de menor liquidez não são mais uma alternativa óbvia. Em 2013, até 7 de junho, os fundos carregados de papéis de menor liquidez estão entre os que mais perdem, com prejuízo médio de 7,01%. "A liquidez tem valor", lembra Alexandre Rezende, sócio da Oceana Investimentos. E o prêmio pela possibilidade de vender os ativos rapidamente, considera, tinha se estreitado demais no ano passado. Assim, as "small caps" ficaram caras demais com relação às "large caps", de maior liquidez. Agora vem o ajuste, diz, que se reflete nas carteiras dos fundos.