Enquanto o principal indicador da bolsa brasileira voltava a cair na semana passada, houve quem ganhasse com fundos de ações. E não foi pouco. Na semana em que o Ibovespa caiu 1,19%, os fundos de ações setoriais avançaram 0,92%. Em junho, até o dia 22, essas carteiras são campeãs de rentabilidade, com alta de 2,2%, segundo levantamento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
A categoria de ações setoriais inclui tanto carteiras com papéis de apenas uma empresa, como Vale e Petrobras, quanto de um segmento, como infraestrutura, construção civil, energia e tecnologia. No mês, até 22, desconsiderados os fundos exclusivos, as 12 carteiras setoriais mais rentáveis são as que carregam papéis da Vale, segundo levantamento feito por Marcelo d"Agosto, autor do blog "O Consultor Financeiro", no portal Valor.
A retomada dos setoriais, portanto, vem de carona na alta de 5,69% das ações preferenciais da mineradora no período. "Elas estavam com os preços muito deprimidos", explica Eduardo Castro, superintendente executivo de fundos da Santander Asset Management. Ele destaca, entretanto, que esse tipo de fundo, com ações de uma única empresa, peca pela falta de diversificação.
No ano, os fundos setoriais marcam o pior retorno entre as categorias medidas pela Anbima, com queda de 0,54%. É importante ressalvar, entretanto, que eles abarcam vários segmentos diferentes e, portanto, com desempenhos diversos. Quando se olha o período completo, são os fundos de infraestrutura que se destacam. Esses sim trazem uma boa oportunidade, na opinião de Castro. "Gostamos particularmente desse segmento pela necessidade de investimento de longo prazo no país."
Castro destaca outros fundos de ações, como os que investem em boas pagadoras de dividendos, com o terceiro maior retorno no ano, de 9,04%. "Essa é uma característica do mercado este ano. Apesar de a bolsa estar com uma performance ruim, alguns setores, geralmente os mais defensivos, têm um desempenho melhor", diz.
O convite ao investidor, portanto, afirma Castro, é para olhar para além do Ibovespa. Apesar de garantir o terceiro maior retorno do mês até o dia 22 de junho, os fundos que buscam superar o índice ainda estão entre os piores resultados do ano, com avanço de apenas 1,63%.
Para os fundos renda fixa índices, a semana passada foi a primeira de retornos positivos em junho, mas no mês a categoria é a única no vermelho, com queda de 0,51%. No período, o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), referência para aplicações conservadoras, variou 0,48%.
Os meses de glória dos renda fixa índices, capitaneados pela trajetória de queda dos juros, ainda se refletem na rentabilidade acumulada no ano, de 9,96%. "A expressão rentabilidade passada não é garantia de ganho futuro mais do que nunca é verdadeira", diz Gilberto Poso, superintendente-executivo de gestão de patrimônio do HSBC.
O fôlego recente nos renda fixa índices foi dado pela perspectiva do mercado de que a taxa básica de juros ainda tem espaço para cair, dada a inflação controlada e os impactos do cenário externo. A expectativa valorizou as NTN-Bs, que preenchem essas carteiras e pagam uma taxa prefixada mais a variação da inflação. Esse tipo de movimento ainda deve testar o estômago dos investidores. "Como em geral são papéis mais longos, os impactos são potencializados, tanto positivos quanto negativos. As oscilações nesse tipo de produto beiram as do mercado acionário", diz Poso, alertando que esses fundos sofreriam muito em caso de retomada da alta dos juros.
No ano, os fundos renda fixa índices são ultrapassados apenas pelos cambiais, com 10,71%. Eles oferecem também o maior retorno no mês, na carona da valorização do dólar acarretada pela fuga do risco. Investir nessas carteiras, entretanto, é para quem tem estômago. "Assim como o mercado acionário, o câmbio é algo bem difícil de ser previsto. Quaisquer mudanças nas circunstâncias externas podem afetá-lo", diz Poso.