A Bovespa caiu com força ontem, vítima de uma combinação de notícias nada favoráveis ao mercado de ações. No cenário doméstico, os dados do IBC-Br, o índice de atividade medido pelo Banco Central, reforçaram a avaliação de que a economia segue a passos lentos. Consequentemente, as empresas listadas na bolsa brasileira tendem a refletir um crescimento menor de seus lucros. A discussão sobre um aperto monetário continuou na pauta, mas investidores prestaram mais atenção à ata da última reunião do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
No documento, os membros do Fed voltaram a expressar preocupação sobre qual será o momento mais adequado para iniciar a redução dos programas de estímulo à economia. "A ata mostrou uma divergência grande entre os membros do Fed", avalia o estrategista da Futura Corretora, Luis Gustavo Pereira. "O documento trouxe um tom diferente, de desconforto. Um número maior de membros já está falando em retirar os estímulos." O estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala, tem opinião semelhante. "Essa foi a ata em que a divergência entre os diretores do Fed ficou mais clara."
Como as bolsas americanas andavam esticadas, batendo nas máximas em cinco anos, "juntou a fome com a vontade de comer", observa Gala, ao comentar a realização de lucros em Wall Street e na bolsa brasileira. "E se depender da economia brasileira, será difícil ver uma Bovespa forte neste ano", disse o especialista da Fator.
O Ibovespa fechou em baixa de 1,98%, aos 56.177 pontos, com forte volume de R$ 8,159 bilhões. Trata-se do menor patamar do índice desde 16 de novembro de 2012 (55.402 pontos). Somente nesta semana, o mercado já recuou 3%. No mês, a perda chega a 6%, e no ano, a 7,8%. A queda do mercado local foi mais acentuada na última hora de pregão, reflexo da piora em Wall Street. Por lá, o índice Dow Jones caiu 0,77%, o Nasdaq perdeu 1,53% e o S&P 500 fechou em baixa de 1,24%.
As ações da Vale tiveram uma boa parcela de culpa na queda da bolsa. O papel PNA, principal componente do Ibovespa, mergulhou 3,57%, para R$ 34,80. O mercado aguardava ontem a retomada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) do julgamento sobre tributação de lucros de empresas coligadas no exterior. A votação estava empatada em quatro a quatro na última sessão da corte. A expectativa recaía sobre o voto do ministro Joaquim Barbosa A Receita Federal cobra cerca de R$ 30,5 bilhões em impostos da mineradora.
Os papéis da companhia também sentiram o fraco desempenho de sua concorrente australiana BHP Billiton, que registrou queda de 58% no lucro semestral, para US$ 4,24 bilhões. Analistas esperavam um recuo de 43% no resultado. Em Nova York, os recibos de ações (ADRs) da BHP caíram 4,2%.
Petrobras PN (-2,65%, a R$ 17,62) também não colaborou com o Ibovespa. O Morgan Stanley reduziu o preço alvo para os ADRs da companhia, de US$ 26,50 para US$ 22,50. Os analistas ressaltam que, apesar de o preço dos combustíveis já ter subido três vezes desde o início da administração de Maria das Graças Foster, os reajustes ainda são insuficientes para compensar os custos de importação de derivados. "Com a inflação acima de 6%, achamos improvável um novo aumento no curto prazo", afirmaram, em relatório. A estatal sofreu influência ainda da forte queda do petróleo, que fechou abaixo de US$ 95 por barril no mercado dos EUA.
A lista de maiores baixas trouxe as construtoras PDG Realty ON (-5,82%) e Rossi ON (-5,52%), e a petroquímica Braskem PNA (-4,30%). Na ponta positiva ficaram apenas oito das 69 ações que compõem o Ibovespa, entre elas OGX ON (2,22%), Ultrapar ON (2,02%) e MRV ON (1,62%).