A Bovespa permanece refém de seus principais papéis, que impedem que o mercado local acompanhe o bom momento das bolsas em Wall Street. Ontem, Vale, Petrobras e OGX fecharam com perdas superiores a 2%, por razões diversas. Juntas, as cinco ações dessas empresas já foram responsáveis por quase 5,5% da perda acumulada de 7,3% do Ibovespa neste ano. As ações ordinárias (ON) e preferenciais (PN) das três companhias respondem por 28% do Ibovespa.
"Continuamos vítimas do Ibovespa. Temos vários cisnes que estão encobertos pelos patinhos feios da Vale, Petrobras e OGX", afirma o estrategista da SLW Corretora, Pedro Galdi, ao comentar que a composição do principal índice da Bovespa, concentrada em commodities e outros papéis com desempenho ruim nos últimos meses, vem travando o mercado.
O Ibovespa fechou ontem em baixa de 0,68%, aos 56.499 pontos, sustentando-se acima da linha dos 56 mil pontos, patamar citado pelos analistas gráficos como decisivo para evitar que a bolsa brasileira acentue sua tendência de baixa.
Nos Estados Unidos, as bolsas passaram a subir no meio da tarde, com investidores deixando em segundo plano as preocupações com as medidas anunciadas pela China no fim de semana para conter o aquecimento do setor imobiliário. O índice Dow Jones fechou em alta de 0,27%, aos 14.127 pontos, maior nível desde 9 de outubro de 2007 e próximo do recorde histórico de 14.164 pontos. O Nasdaq ganhou 0,39%, aos 3.182 pontos, e o S&P 500 subiu 0,46%, aos 1.525 pontos.
As atenções dos investidores estão voltadas para o dado americano de emprego, que sai na sexta. Analistas ouvidos pela Dow Jones Newswires esperam a criação de 155 mil postos de trabalho e um leve recuo da taxa de desemprego para 7,8%. Por aqui, o foco recai sobre a reunião do Copom, na quarta-feira. "A semana ainda promete fortes emoções", observa Galdi.
Ontem, notícias vindas da China atingiram em cheio a Vale. A decisão do país de frear a expansão do mercado imobiliário deve reduzir a demanda por aço e, consequente, por minério. Galdi afirma que o mercado também está preocupado com a criação da agência reguladora do setor de mineração e com a atuação das alíquotas de cobrança de royalties. O governo pretende apresentar ao Congresso neste mês o projeto do marco regulatório para o setor.
Vale PNA terminou entre as maiores baixas do dia, com perda de 3,40%, a R$ 34,05. Vale ON recuou 3,02%, para R$ 35,64, e Bradespar ON - que possui ações da Vale em sua carteira de investimentos - caiu 3,87%, a R$ 27,30.
OGX ON segue ladeira abaixo, marcando nova mínima no ano. A petroleira de Eike Batista perdeu 4,60%, para R$ 2,90, reagindo a um relatório divulgado pelo Deutsche Bank. O analista Marcus Sequeira reiterou a recomendação de venda do papel e cortou o preço-alvo de R$ 3,80 para apenas R$ 2,00. Enquanto o mercado aguarda que a empresa declare no dia 12 a comercialidade de blocos nas bacias de Santos e Campos, o especialista diz acreditar que "há uma grande chance de a OGX devolver blocos inteiros ou parcialmente".
Outros papéis de Eike também apanharam. O estaleiro OSX - que tem a OGX como principal cliente - caiu 5,93%; a mineradora MMX recuou 1,90%, e a companhia de energia MPX marcou leve baixa de 0,09%. A exceção foi LLX ON, a companhia de logística de Eike, que subiu 10,71%, para R$ 2,17, e liderou os ganhos do Ibovespa. Rumores de que Eike teria mantido conversas com André Esteves, do BTG Pactual, ajudaram a movimentar as ações. Todavia, para Gabriel Ribeiro, analista da Um Investimentos, os rumores contribuíram para a oscilação do papel, mas isso não seria motivo suficiente para tamanha alta.
Petrobras PN (-2,36%, a R$ 16,50) e ON (-3,06%, a R$ 14,23) operaram no vermelho o dia todo e acentuaram as perdas no fechamento. A companhia continua alvo de rumores. Depois do boato sobre uma possível venda de ativos na área de distribuição de combustíveis - a BR Distribuidora -, ontem a história que circulou nas mesas de operação foi a possibilidade de cisão dos ativos ligados ao pré-sal e a criação de uma nova empresa, a "Petrobras B". Fontes ligadas ao setor de petróleo afirmaram ao Valor que não há qualquer fundamento no boato.
Além de LLX, Gol PN (5,30%) figurou entre as maiores altas do Ibovespa. Relatório da Moody"s comenta que a abertura de capital do Smiles será positiva para a Gol se os recursos da oferta forem usados para abater a dívida da companhia.