O índice Dow Jones subiu quase 1% e cravou novo recorde histórico ontem, em Wall Street. Mas na rua XV de Novembro a história foi outra. A volatilidade dominou novamente o Ibovespa, que chegou a subir mais de 1% pela manhã, mas terminou em queda de 0,97%, na mínima do dia, aos 55.950 pontos, menor patamar desde 16 de novembro do ano passado. O volume alcançou R$ 7,889 bilhões. A queda acumulada do Ibovespa neste ano alcança 8,2%, pior desempenho entre todas as bolsas mundiais.
Operadores não viram razões específicas para a piora da bolsa brasileira, especialmente nos minutos finais do pregão. Mas a lembrança da reunião de hoje do Copom foi recorrente. O fato é que o mercado anda incomodado há várias semanas com ruídos vindos de membros do governo e quer uma sinalização clara sobre o rumo da política monetária e sobre qual será a prioridade: fazer o país crescer ou conter a inflação. Esse clima de incerteza, aliado às interferências do governo em empresas de capital aberto - Petrobras e setor elétrico, apenas para citar dois casos - vêm se refletindo sobre o comportamento da bolsa brasileira.
A virada do Ibovespa para o campo negativo ocorreu no meio da tarde, com a piora das ações ON da OGX (queda de 4,13%, para nova mínima no ano, de R$ 2,78) e se acentuou com Vale PNA (-0,70%) e papéis de construção e siderurgia. Petrobras PN (0,36%) também perdeu força no pregão.
"O mercado parece estar em momento de espera, de olho na reunião do Copom", comentou o estrategista da Futura Corretora, Luis Gustavo Pereira. "E nesta semana ainda tem o payroll [dado de geração de emprego nos EUA]."
Operadores disseram ainda que os investidores não estão dispostos a adotar a estratégia "buy & hold", ou seja, comprar ações como investimento de longo prazo. O que prevalece é o "daytrade". "O que se vê é um mercado de giro. Compra-se de manhã para vender à tarde, ou no máximo no dia seguinte", disse um operador.
Os maiores ganhos do Ibovespa ficaram com Cosan ON (2,76%), Klabin PN (2,72%) e Brasil Foods ON (1,87%). Cosan reagiu à notícia publicada no Valor, de que o governo vai isentar a cobrança de PIS/Cofins sobre o etanol em abril. Pereira, da Futura Corretora, lembra ainda que o mercado aguarda para breve um anúncio de reestruturação societária do grupo. Já Brasil Foods refletiu o balanço do quarto trimestre, que trouxe um salto de 365% no lucro, para R$ 563 milhões. Durante teleconferência, o presidente da BRF, José Fay, disse que a receita deve crescer entre 10% e 12% neste ano.
BM&FBovespa ON (1,36%) liderou as altas durante a maior parte do dia, mas perdeu força no fechamento. A bolsa anunciou corte nas tarifas de negociação do mercado à vista. O corte foi possível graças a ganhos de escala. Além de o impacto sobre a receita ser limitado, os analistas do Credit Suisse destacaram que a redução nas tarifas colabora para dificultar a eventual entrada de bolsas concorrentes no mercado brasileiro.
A lista de maiores baixas trouxe MRV ON (-6,27%), LLX ON (-5,99%) e Dasa ON (-5,45%). Enquanto as construtoras reagiram a uma possível alta dos juros, que encareceria os financiamentos, a ação da Dasa sofreu com o balanço, que veio abaixo do esperado pelo mercado.
Em tempo: a Petrobras anunciou ontem à noite um reajuste de 5% para o óleo diesel nas refinarias. Resta saber como o mercado vai interpretar a notícia, em dia de reunião do Copom.