A dificuldade para prever os rumos da economia brasileira é, segundo analistas, a principal razão que está travando as negociações na Bovespa. Pesquisa do Valor Data mostra que o Ibovespa, que caiu 5,8% desde o início do ano, tem o pior desempenho entre 48 índices. Nos últimos 12 meses, o Ibovespa também está na lanterna. Teve queda de 24,97%, muito maior do que a verificada em bolsas de países fortemente atingidos por crises econômicas e políticas, como Itália (-5,11%) e Espanha (-5,97%). As variações são nominais e em moeda local.
O ano de 2013 está frustrando as expectativas dos investidores para o mercado de ações brasileiro. Isso quando há projeções passíveis de frustração. Segundo analistas, a dificuldade em prever os rumos da economia trava as negociações na Bovespa. Pesquisa feita pelo Valor Data mostra que o Ibovespa é o indicador de ações com pior desempenho neste ano e nos 12 últimos meses.
Somente neste ano, o Ibovespa acumula perda de 5,8%. Em 12 meses, o referencial brasileiro de ações registra queda de quase 25%, a maior de uma lista de 48 índices. Fica abaixo de Itália (-5,1%), Espanha (-5,9%) e Rússia (-10,2%) No topo estão Venezuela (189,3%) e Filipinas (47,1%). As variações são ponderadas pelo dólar.
Analistas dizem que há muitas dúvidas sobre o futuro da economia brasileira e, num cenário desses, o investidor prefere vender. O analista técnico Raphael Figueredo, da Icap Brasil, diz que o índice descola das principais bolsas internacionais por travas locais. "O Ibovespa deixou de ser foco dos investidores, que se retraem por temerem anúncios de novos marcos regulatórios pelo governo, inflação alta e por uma política monetária que consideram confusa, diz. "Tudo contribui para o investidor ficar fora do mercado."
"O mercado passa pelo típico momento de frustração de expectativa", diz o diretor técnico da Apogeo Investimentos, Paulo Bittencourt. Segundo ele, no nível atual, o índice devolve praticamente toda a percepção de melhora econômica que começou a entrar nos preços dos investidores depois de novembro.
No ano passado, após uma série de revisões para baixo do Produto Interno Bruto (PIB) e de reações negativas a medidas do governo que alteraram concessões de elétricas e a pressão por spreads menores para os bancos, o mercado antecipou um 2013 melhor. Esse otimismo fez o Ibovespa sair de 55.400 pontos em meados de novembro para 60.952 pontos no fechamento de 2012, alta de 10%.
"Mas o cenário para a economia vem se deteriorando gradualmente", complementa Roger Oey, superintendente de pesquisa do Espirito Santo Investment Bank. "Os investidores começaram acreditando que o ano seria de recuperação, mas as projeções vêm sendo frustradas com rapidez", diz.
"Se o governo tiver sucesso no controle da inflação, um cuidado maior nas questões fiscais e, principalmente, uma diminuição da sua intervenção [no mercado], esse quadro negativo vai se reverter", avalia o diretor da Icap Brasil, Paulo Levy. "Os fatores que determinaram a degradação do cenário para os investidores de bolsa podem ser revertidos facilmente. Isso depende mais de uma atuação do governo do que do mercado."
Segundo o boletim Focus, do Banco Central, as perspectivas para a expansão do PIB e para a inflação se deterioram a cada semana. No começo de janeiro, por exemplo, a estimativa para IPCA era de 5,49% este ano. Na segunda-feira estava em 5,69%. Para o PIB este ano, a previsão de expansão caiu de 3,26% para 3,10%. Além disso, lembram os especialistas, o mercado não consegue compreender o tom da política monetária.
Segundo Oey, o estrangeiro dividiu o mercado em duas bolsas, a do Brasil "velho" e a do Brasil "novo". No primeiro grupo estão papéis de peso no Ibovespa, como Vale e Petrobras. No segundo, estão ações da economia nova e dinâmica, que inclui varejo, educação e serviços. "Desde 2012, o estrangeiro está vendido no Brasil velho e comprado no novo, que tem ações de empresas com administração privada e de setores menos sujeitos a regulações governamentais."
Pedro Quaresma, sócio da STK Capital, corrobora essa visão. "O Ibovespa não sobe porque as ações de maior peso são Petrobras e OGX, que vêm sendo vendidas pelos investidores." Petrobras perde valor, entre outros motivos, com a resistência do governo em ajustar os preços dos produtos vendidos pela empresa às cotações internacionais. Já OGX tem frustrado as expectativas do mercado em seu cronograma de produção.
"Além disso, os ajustes para baixo do crescimento previsto para o país e para cima da inflação puxam para o alto a curva de juros", acrescenta Quaresma. Com isso, a renda variável fica menos atrativa que a fixa.