"No longo prazo, para ter sucesso nesse mercado, todos terão de considerar a manufatura aqui", diz Kolchanov, da Land Rover
Definidas as regras do novo regime automotivo, as marcas que investem em fábricas no país correm para se habilitar ao programa e, com isso, obter cotas de importação mais confortáveis a partir do ano que vem. Além da Nissan, a primeira montadora habilitada, JAC Motors, Chery e, mais recentemente, BMW encaminharam seus projetos industriais ao governo e aguardam uma aprovação nos próximos dias.
Para entrar no regime, os planos de fábrica precisam, primeiro, passar pelo crivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). Uma vez habilitadas, as empresas poderão importar um volume equivalente a 25% de sua futura capacidade de produção sem pagar os 30 pontos adicionais do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI).
Para muitas marcas, isso significa recuperar vendas perdidas ao longo de 2012, quando importadores tiveram de encarar a cobrança extra do imposto ao longo de todo o ano. A JAC, por exemplo, já fez as contas e vê espaço para retomar os volumes de 2011, quando emplacou quase 24 mil carros.
A montadora está instalando uma fábrica em Camaçari (BA) para produzir até 100 mil carros. Poderá, portanto, trazer 25 mil unidades sem o IPI extra, além de gerar crédito tributário para a importação de outros 25 mil automóveis, que poderá ser usado quando a linha de montagem estiver pronta. Sergio Habib, responsável por trazer a JAC ao país, diz que o projeto foi submetido ao governo há duas semanas.
"O decreto [que regulamentou o novo regime} viabiliza a construção da fábrica", disse o executivo durante evento reservado à imprensa no Salão do Automóvel de São Paulo. Neste ano, o governo está concedendo às montadoras uma habilitação preliminar, válida até a 31 de março. Para renovar a licença por mais doze meses, as empresas terão que encaminhar os projetos definitivos.
Há uma interpretação comum de que a nova política automotiva, que vai durar de 2013 até 2017, dá previsibilidade para a realização de investimentos. Não à toa, o anúncio do programa, no início do mês, abriu espaço para avanços nos projetos de nacionalização - como o anúncio feito na segunda-feira da construção de uma fábrica da BMW em Santa Catarina.
A expectativa é que, com as cotas, 2013 será melhor do que o difícil ambiente para as importações deste ano
Ontem, a direção da Chery informou que o compacto Celer será o primeiro carro a ser produzido na fábrica de Jacareí (SP), cujo início de operação é previsto até o fim do ano que vem, após investimentos de US$ 400 milhões.
Por sua vez, a JAC planeja montar em Camaçari um sucessor dos modelos J2 e J3, primeiro na versão hatch e posteriormente nas versões de utilitário esportivo e sedã.
Por outro lado, marcas com projetos em estágio inicial ainda digerem o novo regime automotivo, redimensionando seus planos ou, pelo menos, repensando estratégias de importação.
"No longo prazo, para ter sucesso nesse mercado, todos terão de considerar a manufatura aqui", avalia Dmitry Kolchanov, diretor das operações fora da Europa da Land Rover, uma das montadoras que destrincham o texto do novo regime automotivo antes de decidir pela produção local. Hoje, o Brasil é o sétimo mercado da Land Rover, mas Kolchanov vê potencial para o país entrar para o grupo dos cinco maiores em três anos.
No ano que vem, acreditam as companhias, será possível ver com mais clareza como o setor vai se reorganizar. A expectativa é que, com as cotas, 2013 será melhor do que o difícil ambiente para as importações deste ano.
Na opinião de Flávio Padovan, presidente da Abeiva, a entidade que abriga as marcas sem fábrica no país, a retomada será parcial. "Todas as montadoras estão avaliando sua sobrevivência no país e definido seus planos de estratégia dentro do Inovar-Auto," afirmou durante o Salão do Automóvel.
Nas estimativas da Abeiva, as importações dessas empresas chegarão a 150 mil veículos em 2013, ainda abaixo dos quase 200 mil de 2011, mas acima dos 120 mil projetados para este ano.
Existem, contudo, leituras negativas sobre o novo regime, que colocaria exigências pesadas demais na nacionalização de processos industriais e investimentos em inovação. Para o empresário José Luiz Gandini, que importa os carros da Kia no Brasil, o governo acertou em estabelecer cotas de importação de acordo com a média de vendas dos últimos três anos, mas errou ao não concedê-las de forma proporcional aos volumes das marcas no mercado.
A Kia vende no Brasil uma média de 52 mil carros por ano, mas, a partir do ano que vem, Gandini poderá trazer apenas 4,8 mil unidades sem os 30 pontos do IPI. Por isso, ele trabalha para tirar do papel o antigo sonho de levantar uma fábrica no país. "Queremos uma produção para atender toda nossa demanda e estamos negociando diariamente a antecipação de nosso projeto," comentou.
Já a direção da Volvo informou que, no momento, a produção no país não é prioridade. Segundo o presidente da divisão de automóveis da Volvo, Paulo Solti, o volume de vendas não justificaria o investimento, de modo que a marca concentrará esforços na ampliação da rede de distribuição, com a abertura de sete lojas até o fim de 2013.