Os economistas que enxergam como provável uma alta da taxa básica de juros para controlar uma inflação que "mudou de comportamento" ganharam uma companhia quase inesperada. O professor Luiz Gonzaga Belluzzo, da Unicamp e da Facamp, diz que a persistência da inflação abre espaço para que o BC eleve a Selic no primeiro semestre. "Se for o caso, o BC tem sim que usar a taxa de juros para conter a inflação que se generaliza, se espalha ou se difunde."
Segundo Belluzzo, se a autoridade monetária, olhando para o comportamento dos índices de preços, notar que a tendência é de inflação alta ou, pior ainda, de aceleração dos preços, ele tem que agir da forma recomendável: subir o juro. "Mas tem que fazer isso olhando para frente e não para trás. Ele tem que reagir às tendências da inflação". Questionado se a tendência é de aceleração dos preços, o economista diz que observa que, nos últimos meses, a tendência tem sido de maior difusão e de generalização da alta dos preços.
Para Belluzzo, uma alta de 0,5 ponto percentual, de 7,25% para 7,75%, seria suficiente para administrar as expectativas e dizer aos formadores de preços que o BC não está disposto a permitir uma alta generalizada, além da já ocorrida. "Mas não é com golpes [na taxa] que você vai resolver o problema. A alta tem que vir da forma como é feita nos países civilizados e eu estou partindo do princípio de que nos transformamos em um."
Interlocutor frequente do ministro da Fazenda, Guido Mantega, Belluzzo aponta ainda como um dos principais pontos de preocupação, e um ponto que pode definir a atuação do BC, o fortalecimento dos índices de difusão - proporção dos itens que compõem a cesta de consumo que registraram aumentos. Em 12 meses encerrados em janeiro, o IPCA subiu 6,15%, com o índice de difusão atingindo 75,1% no primeiro mês do ano. "Vejo que a inflação mudou de etiologia, de comportamento, e uma perda de controle não deve ser tolerada", diz. "Não sou favorável à inflação", respondeu, em tom de brincadeira, àqueles que o enxergam como tal.