Dólar baixo não é bom, mas excessivamente valorizado também atrapalha, diz Padovani, da Votorantim Corretora O governo deve persistir em sua atuação no câmbio em 2013. Mas desta vez as autoridades devem iniciar o ano trabalhando para conter uma depreciação da moeda brasileira além dos fundamentos. O objetivo é evitar que a inflação ganhe ainda mais força, reduzindo, assim, as chances de estourar o teto da meta do Banco Central. As preocupações com o crescimento econômico, que até pouco tempo justificavam as intervenções do governo para depreciar o real, continuarão no foco.
A diferença é que o governo parece ter constatado que as atuações estavam azedando o humor já fragilizado dos investidores com relação ao Brasil. As saídas persistentes de recursos nos últimos meses do ano intensificaram a alta do dólar, levando a moeda no fim de novembro a se aproximar de R$ 2,15. A saída foi, então, começar a desmontar medidas tomadas anteriormente para conter uma fartura de entrada de capitais. Em junho, quando o dólar chegou a superar R$ 2,10, o governo deu início à flexibilização das medidas, reduzindo de cinco para dois anos o prazo dos empréstimos externos sujeitos à alíquota de 6% do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Depois, o câmbio ficou cinco meses travado entre R$ 2,00 e R$ 2,10 - em alguns momentos, numa faixa ainda mais estreita, entre R$ 2,03 e R$ 2,05 -, deixando o Ministério da Fazenda e o Palácio do Planalto confortáveis para discursar a favor da alta da moeda americana. Mas, no fim de novembro, as saídas de recursos típicas de fim de ano acabaram ditando uma rápida valorização do dólar, que só naquele mês subiu quase 5%. O governo se viu obrigado a reforçar as atuações para conter o ímpeto do dólar. Já em dezembro, o Banco Central reforçou as ofertas de swap cambial tradicional (que equivalem a uma venda de dólares no mercado futuro), retomou depois de um ano as vendas de dólares por meio de leilão de linhas das reservas internacionais, facilitou a entrada de recursos pela conta comercial (via Pagamentos Antecipados) e alterou as regras para cobrança do compulsório sobre posição vendida em dólar à vista.
Ao mesmo tempo, o governo voltou a mexer no IOF, reduzindo para um ano o prazo dos empréstimos passíveis da cobrança de 6%. Os resultados das ações ficaram claros no comportamento do câmbio em dezembro. No mês, o dólar acumulou queda de 4,04% e fechou o cotado a R$ 2,045, reduzindo a 9,42% a apreciação acumulada em 2012. A ação do governo reforçou a tese do mercado de que o Brasil trabalha com um regime de câmbio administrado, ainda que não oficialmente. O economista-chefe do Citibank no Brasil, Marcelo Kfoury, não vê argumentos suficientes para uma mudança notória nessa postura. "O dólar vai continuar entre R$ 2,00 e R$ 2,10", diz ele, citando a equação "crescimento versus inflação". "O Ministério da Fazenda não quer [o dólar] abaixo de R$ 2,00. O BC atua quando [a moeda] chega perto de R$ 2,10. Ou seja, para o governo, parece que o nível que resolve essa equação está entre esses extremos."
O economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, lembra que o dólar baixo, de fato, não é bom para a economia, mas excessivamente valorizado também atrapalha. "No curto prazo, a desvalorização do real reduz a capacidade produtiva e eleva a inflação. No médio prazo, encarece o financiamento das empresas, o que vai na contramão dos esforços para estimular o investimento." Apesar da percepção entre agentes de mercado de que o governo deixou para trás o desejo deliberado de um real mais fraco, algumas casas ainda estão céticas quanto ao comportamento da moeda brasileira. O banco francês BNP Paribas, por exemplo, não descarta que o real possa sofrer algum tipo de pressão por uma eventual surpresa negativa com o fluxo de dólares pela conta capital no próximo ano. Ao analisar as perspectivas para o balanço de pagamentos em 2013, o banco estima que o Brasil deve continuar registrando fluxos "bem equilibrados" de dólares, mas com riscos de queda.
O banco espera que, pelo menos até a divulgação dos números do PIB referentes ao quarto trimestre, o BC e o governo continuem atuando para evitar que o dólar supere R$ 2,10. O mais provável, na verdade, é que até a divulgação do PIB do primeiro trimestre de 2013 o real não se afaste muito dos atuais níveis, dizem os especialistas. Para a estrategista de macroeconomia e câmbio para a América Latina do RBS, Flavia Cattan-Naslausky, apesar das recentes ações para melhorar a liquidez, o governo ainda não está buscando que o real fique mais próximo de R$ 2,00 do que de R$ 2,10.
Embora reconheça que as recentes medidas tomadas pelo BC e pelo governo devem amenizar parte da pressão sobre a economia real, a estrategista entende que, para que haja um impacto mais efetivo na taxa de câmbio, a investida do governo deveria contemplar outras medidas de controle de capitais, como a redução ou eliminação das alíquotas de IOF sobre empréstimos externos e derivativos cambiais.
A estrategista acredita que o mercado deve reforçar a pressão especulativa para enfraquecer o real, para depois o governo começar a "desmontar" as taxações originalmente aplicadas para dissuadir fluxos especulativos. Com as medidas já alteradas até o momento, a estrategista prevê que o dólar oscile mais perto de R$ 2,00. Olhando além do curto prazo, contudo, ela considera que a tolerância para um real mais forte dependerá do equilíbrio da equação "crescimento versus inflação", embora as expectativas inflacionárias já ofereçam pouca margem de manobra.