Variação de 0,33% superou as previsões e ajudou a promover um ajuste de alta em algumas taxas futuras de juros
O Índice de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) de julho trouxe a inflação de volta à pauta do dia. A variação de 0,33% superou as previsões e ajudou a promover um ajuste de alta em algumas taxas futuras de juros.
Em 12 meses, a inflação passou de 5% para 5,24%, encerrando uma sequência de baixas que começou em outubro do ano passado. A queda da inflação nessa métrica era trunfo do governo e do Banco Central (BC).
No mercado, o IPCA-15 reforça a ideia daqueles que trabalharam com mais um corte de juro em agosto e fim de ciclo em 7,5%, e dá respaldo para a fatia de analistas que vê alta de juros em 2013.
De acordo com um tesoureiro, é natural que o maior ajuste de alta tenha se concentrado no contrato para janeiro de 2014, pois é nele que reside a possibilidade de ganho caso essa piora da inflação perdure.
De volta à inflação, segundo o banco ABC Brasil, os grandes vilões do mês foram os grupos alimentação (0,88%) e despesas pessoais (0,41%), que representaram 91% de todo o IPCA-15.
Na avaliação do sócio da Platina Investimentos, Marco Franklin, o preço das commodities agrícolas subiu e não deve cair. O choque de oferta não será passageiro.
"Tudo aponta para um desastre histórico em termos de produção de grãos neste ano", avalia.
Franklin, que acompanha de perto esse mercado, aponta que as previsões eram muito otimistas para a produtividade da safra de milho nos Estados Unidos em virtude de um clima que se mostrava perfeito. Acontece que o clima seco e quente durou além do "necessário", a produtividade esperada está sendo revisada para baixo e o preço do milho, que caía 10% no acumulado do ano no começo de junho, passou a mostrar alta de 35%. Como o período de floração acabou, não tem como rever safra e produtividade para cima. Só falta mesmo contabilizar os prejuízos.
A soja já largou o ano com problemas de produção em função de quebra de safra no Brasil e na Argentina. O mercado mais apertado já tinha colocado o preço do grão para cima em 25%, e, agora, a cotação já avança 40%.
O trigo também mostra problemas conforme a Rússia começa a sofrer com o tempo seco e surgem notícias de que o país pode criar cotas de exportação. Essa manobra ajudou na explosão de preço vista em 2010.
Segundo Franklin, esse choque de oferta do mercado de grãos não será pontual e, se o clima não ajudar, as cotações tendem a subir ainda mais.
Mesmo com clima perfeito de agora em diante, não há tempo para a formação de estoques confortáveis para a virada do ano e esse desarranjo no mercado não se concerta tão rapidamente, o que pode resultar em preços elevados também em 2013.
Toda essa história deve ganhar mais peso na avaliação prospectiva da política monetária. O BC não reage a choques de oferta, mas sim aos efeitos secundários do choque.
De acordo com Franklin, se o BC estiver correto e a economia ganhar tração no decorrer do ano, esse já é um vetor de inflação para cima. Essa possibilidade já está no radar do BC. Resta saber como ele vai encarar esse choque de oferta de alimentos.
Para o especialista, o ciclo de corte de juros poderia ser encurtado. "O BC telegrafou uma queda na próxima reunião. Que corte o juro e pare. Agora, se a coisa piorar, ele deve encerrar o ciclo em agosto sem novo corte", diz Franklin, complementando que estamos em águas nunca dantes navegadas em termos de taxa de juros e prestes a enfrentar um tremendo choque de oferta.
No câmbio, o mercado local retomou correlação com a cena externa. E como a sexta-feira foi dia de preocupação com a Espanha, o preço do dólar subiu, mas sem exageros.
"Se o BC já não deixava o dólar subir muito com a inflação sob controle, agora a atenção dele deve aumentar conforme os preços dão sinal de piora", afirma um operador. O dólar comercial ganhou 0,50% na sexta-feira, para R$ 2,023. Na semana, no entanto, caiu 0,69%.