O fluxo líquido de capitais recebido pelo Brasil em março foi o maior em um ano e alcançou US$ 13,6 bilhões. Recursos brasileiros contribuíram para o resultado. Filiais de multinacionais brasileiras enviaram às suas matrizes perto de US$ 7 bilhões em operações de empréstimo intercompanhias. No trimestre, elas geraram ingresso de US$ 8,6 bilhões, montante superior ao desembolso recebido em todo o ano passado (US$ 8,5 bilhões)
O ingresso líquido de capitais no país foi de US$ 13,6 bilhões em março, o maior volume de recursos vindos do exterior nos últimos 12 meses, segundo dados divulgados ontem pelo Banco Central. As filiais de empresas multinacionais brasileiras ajudaram a compor essa cifra, emprestando às suas matrizes quase US$ 7 bilhões na forma de operações de crédito intercompanhias, valor bem mais alto do que os US$ 1,47 bilhão de março de 2011.
A entrada líquida de capitais cobriu com larga folga o déficit de US$ 3,32 bilhões nas transações correntes com outros países no mês, fazendo com que o resultado global do balanço de pagamentos externos fosse positivo em US$ 10,59 bilhões em março. Desde setembro de 2010, quando o balanço foi superavitário em US$ 11,6 bilhões, não se via dados tão expressivos.
Já na comparação dos trimestres, por causa dos outros dois meses do ano, tanto o fluxo líquido de capitais quanto o resultado global do balanço recuaram em relação a 2011, caindo de US$ 43,64 bilhões para US$ 23,92 bilhões e de US$ 27,64 bilhões para US$ 12,36 bilhões, respectivamente.
O saldo da repatriação de investimentos brasileiros diretos (IBD) como um todo, categoria que inclui os empréstimos intercompanhias, ficou em US$ 5 bilhões em março, pois saíram US$ 1,624 bilhão para reforço de participações diretas no capital de empresas no exterior.
Os brasileiros também mandaram para fora do país US$ 1,780 bilhão para investir em títulos de renda fixa, aquisição de ações via mercado de capitais, derivativos e outros tipos de investimentos. Ainda assim, por causa dos empréstimos das filiais, os residentes responderam por ingresso líquido em torno de US$ 3,05 bilhões em março.
O chefe do Departamento Econômico do Banco Central, Tulio Maciel, lembra que os empréstimos intercompanhias são tributados com 6% de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Portanto, afirma, o seu crescimento não se trata de tentativa de fugir do tributo para aproveitar as altas taxas de juros internas. O fato de a economia brasileira ainda estar crescendo acima da média mundial poderia ser uma explicação para o forte fluxo de recursos de filiais a matrizes de multinacionais brasileiras.
No acumulado do trimestre, essas operações de crédito geraram ingresso de US$ 8,6 bilhões, ante US$ 2,1 bilhões em igual período de 2011. Esse montante já é superior ao desembolso recebido em todo ano passado (US$ 8,512 bilhões).
Descontando as amortizações pagas pelas matrizes, as filiais de empresas brasileiras emprestaram ao país US$ 7,91 bilhões nos três primeiros meses do ano, cifra também superior à de 2011 inteiro (US$ 6,1 bilhões).
No ano passado, a principal contribuição das filiais para o balanço de pagamentos brasileiro se deu de outra forma: elas amortizaram US$ 14,45 bilhões de dívidas com as matrizes no Brasil.
Em 2012, também houve pagamentos e recebimentos em função de empréstimos de matrizes para filiais, mas o fluxo nesse caso foi irrelevante, ficando em apenas US$ 18 milhões negativos no mês e no trimestre.
Os recursos estrangeiros foram responsáveis, em março, por US$ 10,5 bilhões dos US$ 13,6 bilhões de saldo registrados pela conta de capitais do balanço de pagamentos. A contribuição dos não residentes veio, principalmente, dos investimentos estrangeiros diretos (IED), que somaram US$ 5,887 bilhões no mês, incluindo um fluxo líquido positivo de US$ 830 milhões de créditos intercompanhias envolvendo multinacionais estrangeiras e filiais no país.
O valor ficou abaixo do registrado em março de 2011 (US$ 6,787 bilhões). No acumulado do trimestre, o ingresso de IED somou US$ 14,939 bilhões, o que também foi inferior a igual período do ano passado (US$ 17,535 bilhões). No entanto, o desempenho do IED em março foi melhor do que o esperado pelo Banco Central, cuja projeção indicava entrada de US$ 4 bilhões. Tulio Maciel reconheceu que a estimativa da autoridade monetária para o ingresso desses recursos durante todo o ano (US$ 50 bilhões) se mostra conservadora diante do verificado no primeiro trimestre e deve ser revisada.
Os estrangeiros trouxeram ainda para o país US$ 1,27 bilhão na forma de investimentos em títulos de renda fixa, modalidade que no trimestre atraiu US$ 2,28 bilhões. Isso revela um interesse menor do que o verificado no primeiro trimestre de 2011, quando os estrangeiros aplicaram em títulos de renda fixa US$ 5,01 bilhões, dos quais US$ 1,84 bilhão em março. Aí se nota o efeito do aumento do IOF sobre captações externas imposto pelo governo a partir de março de 2011, diz Tulio Maciel.
Embora pouco expressivo em março (US$ 131 milhões), o fluxo de investimentos estrangeiros em ações chegou a US$ 5,2 bilhões no trimestre, bem mais do que os US$ 748 milhões verificados em igual período de 2011.
Já as demais modalidades de investimentos (créditos comerciais, empréstimos diretos, moedas e depósitos) atraíram este ano um volume menor de capitais estrangeiros do que no ano passado, tanto no mês, quanto no acumulado do trimestre. Em março, esse fluxo foi de US$ 3,1 bilhões, contra US$ 7,97 bilhões do mesmo mês de 2011. No trimestre, ficou em US$ 3,78 bilhões, ante US$ 11,31 bilhões de igual período do ano passado.
Os empréstimos externos diretos, ou seja, que não implicam emissão de títulos, também foram alcançados pelo aumento do IOF, que certamente influenciou o fluxo dessa modalidade de capital externo.