Os investidores estrangeiros deram início a uma espécie de "ataque especulativo" a favor do real na semana passada, apostando na valorização da moeda ante o dólar, enquanto o ministro da Fazenda, Guido Mantega, endurecia o discurso, ameaçando tomar medidas mais fortes para conter a pressão de baixa sobre a divisa americana.
O dólar comercial fechou a sexta-feira estável, cotado a R$ 2,023, valor que se repetiu em três das cinco sessões da semana passada. Ainda assim, o mercado acredita que a tendência é mesmo de queda para a moeda dos Estados Unidos, na esteira do QE3 - o programa lançado pelo banco central americano de compra de títulos -, que deve elevar, mesmo que modestamente, o fluxo de capitais para o país.
A pouca oscilação da moeda, segundo operadores, é reflexo direto das intervenções do Banco Central - e do cuidado de agentes em não provocar novas atuações da autoridade monetária.
No mercado de derivativos, porém, estrangeiros já se preparam para a valorização do real, que esperam vir com o eventual aumento dos fluxos para o país. Apenas na semana passada, elevaram em US$ 2,19 bilhões a posição vendida líquida (aposta na queda do dólar) em derivativos cambiais, para US$ 3,699 bilhões. Esses agentes fizeram isso por meio principalmente da venda de US$ 2,22 bilhões em contratos de dólar futuro na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).
"É um ataque especulativo a favor do real. Os estrangeiros estão fortes na venda de dólar", disse Eduardo Duarte, operador de câmbio da ICAP Brasil. "Claramente estão montando uma posição vendida muito grande para aproveitar uma [possível] queda do dólar", disse Duarte
Na sexta-feira, em Londres, Mantega sinalizou quais poderiam ser as novas medidas para segurar o dólar dentro da "banda informal", entre R$ 2 e R$ 2,05.
Segundo o ministro, caso as entradas de capitais pressionem o câmbio para fora dessa banda, o governo pode aumentar as compras de dólares e ainda elevar o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre transações de estrangeiros no país.
Também no mercado de juros, as taxas dos contratos mais negociados na BM&F, com vencimentos em janeiro de 2013 e de 2014, cederam, após Mantega afirmar que há espaço no entendimento dele para a continuidade da atual política monetária expansionista.