A concentração do efeito da queda de 18% da tarifa de energia elétrica para o consumidor em fevereiro levará o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a ceder em relação à alta de 0,86% observada em janeiro. Ainda assim, reajustes das mensalidades escolares, alimentação ainda pressionada e alta do preço da gasolina devem ter levado o índice a subir 0,50% no último mês, de acordo com a média de 11 consultorias e instituições financeiras ouvidas pelo Valor Data. As estimativas para o IPCA de fevereiro, que será divulgado hoje pelo IBGE, variam entre alta de 0,40% a 0,63%.
Mesmo com a expectativa de desaceleração do índice, se confirmado o resultado esperado pelos economistas a inflação acumulada em 12 meses voltará a subir em fevereiro, para 6,20%, próximo ao teto da meta perseguida pelo Banco Central (BC), de 6,5%. Analistas notam, no entanto, que os núcleos e o índice de difusão devem ceder neste e nos próximos meses, principalmente por causa da sazonalidade, já que reajuste de serviços concentram-se no início do ano, e pela desaceleração mais forte dos alimentos, reflexo da deflação dos preços agropecuários no primeiro bimestre deste ano.
Fabio Romão, economista da LCA Consultores, estima em 15,22% o recuo do item energia elétrica em fevereiro, por causa do corte de 18% nas contas de luz em vigor desde 24 de janeiro. Essa redução, no entanto, será parcialmente compensada pela alta de 4% da gasolina, em função do aumento de 6,6% do combustível nas refinarias anunciado pela Petrobras no fim de janeiro. O efeito líquido dessas duas medidas, nas contas do economista, é de alívio de 0,35 ponto percentual no IPCA do mês passado. Sem a MP 579, portanto, o índice oficial de preços praticamente repetiria a alta de 0,86% observada no primeiro mês do ano.
Ainda assim, o grupo alimentação e bebidas, de maior peso no indicador, também terá comportamento mais favorável em fevereiro, afirma a economista Adriana Molinari, da Tendências. Em suas contas, esse grupo deverá deixar alta de 1,99% em janeiro para subir 1,25% em fevereiro. "Esperava desaceleração um pouco mais forte, mas os preços de alguns produtos como tubérculos e hortaliças demoraram para ceder", afirma.
Questões regionais também impediram que os alimentos perdessem fôlego mais rapidamente, avalia a economista Andrea Damico, do Bradesco. No Nordeste, ainda por causa da seca que assola a região, cereais e a farinha de mandioca seguraram os preços de alimentos em patamar elevado.
Por isso, não é esperado que esse grupo trace trajetória semelhante à vista no Índice de Preços ao Consumidor da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (IPC-Fipe), que entre janeiro e fevereiro deixou alta de 2,11% para avanço de 0,34%. No índice oficial de inflação, Andrea estima que esses produtos terão alta de 1,36% em fevereiro.
Além disso, a desaceleração do IPCA não será tão forte quanto a contabilizada em outros índices de inflação, como o calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), por causa de uma diferença de metodologia. Os preços ao consumidor calculados pela FGV subiram 0,33% em fevereiro. Fabio Romão, da LCA, projeta que o IPCA mostrará alta de 0,49% no mesmo período porque no levantamento do IBGE a variação dos preços é contabilizada pelo regime de caixa, que registra os aumentos quando são efetivamente cobrados. Por isso, reajustes de educação concentram-se em fevereiro no caso do IPCA e em janeiro no IPC da FGV.
A educação, estima Romão, deve ter subido 5,47% no mês passado, abaixo da variação de 5,62% observada em fevereiro de 2012. Para ele, é uma boa notícia porque em um ano de melhores perspectivas para a atividade, itens que compõem a cesta de serviços estão cedendo. O item empregado doméstico, que repete a variação observada no IPCA-15, prévia do índice para o mês cheio, deve subir 1,12% em fevereiro, variação mais modesta que a alta de 1,72% vista em igual período do ano passado.
Para Romão, esse movimento reforça a percepção de que, com o menor reajuste real do salário mínimo neste ano, os preços dos serviços subirão menos do que em 2012, apesar da expectativa de atividade mais aquecida
A sazonalidade mais positiva e a desaceleração mais forte dos alimentos compensarão a saída do efeito da queda da tarifa de energia, avalia Adriana, da Tendências, que estima IPCA menor em março do que no mês passado.
Para Andrea, do Bradesco, será importante que se confirme a trajetória esperada pelo mercado para o IPCA nos próximos meses, com desaceleração também dos núcleos e do índice de difusão, para definição das próximas ações do Banco Central em relação à condução da política monetária. O Bradesco projeta manutenção da Selic em 7,25% ao ano ao longo de 2013.