A taxa de inflação de 0,64% em abril ficou acima das expectativas do Banco Central, reconheceu Alexandre Tombini, presidente da instituição. Mas ele afirma que a taxa acumulada em 12 meses ainda não preocupa.
"A inflação oficial em março veio abaixo das nossas expectativas. Em abril, a inflação divulgada ontem (anteontem) veio acima", afirmou Tombini, após participar do 14.º Seminário Anual de Metas Para a Inflação, no Rio.
Na passagem de abril para março, o IPCA triplicou. A taxa passou de 0,21% em março para 0,64% em abril. Mas, segundo Tombini, "nos próximos três meses, a inflação mensal no Brasil será inferior à inflação mensal registrada em abril". Quanto à pressão do dólar sobre os preços, o BC afirma estar acompanhando os possíveis impactos sobre a inflação no País.
Tombini disse que a forte valorização da moeda americana ante o real na última semana foi provocada por um fortalecimento do dólar no cenário internacional. "A moeda americana se fortaleceu contra todas as moedas, a exceção talvez tenha sido o iene japonês", notou Tombini.
O executivo voltou a frisar que o regime no País é do câmbio flutuante, até para amortecer possíveis prejuízos à economia doméstica causados por choques externos. "Continuaremos avaliando os impactos de todos os fatores econômicos sobre a inflação, inclusive do câmbio."
Em outro evento, o secretário executivo da Fazenda, Nelson Barbosa, afirmou que "permanece a necessidade estrutural de um instrumento para monitorar melhor" o mercado de derivativos, mesmo com a mudança de tendência do câmbio.
Barbosa também acredita que o câmbio no Brasil esteja sendo afetado pela conjuntura internacional. No entanto, ele afirmou que a economia brasileira tem capacidade para suportar flutuações. "Há alguns impactos em inflação, em preços, mas não é nada que comprometa a inflação na meta, nem a estabilidade da economia", disse Barbosa.
Sobre o crédito, o presidente do BC afirmou que o esperado seria o aumento no ritmo de concessão em um momento de fortalecimento da atividade. Ele acredita que o financiamento de veículos deve tomar impulso no segundo semestre, já que a inadimplência tende a se estabilizar e até recuar quando a economia voltar a "pegar tração".
Tanto Tombini quanto Barbosa afirmaram que não há estudos no governo, no momento, sobre a redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) ou do depósito compulsório a bancos.
Recado. No seminário do BC, Tombini encerrou sua fala com uma espécie de recado à plateia, repleta de economistas, ao destacar que os BCs vêm buscando uma comunicação mais direta para evitar que interpretações "com variância excessiva" possam afetar o funcionamento dos mercados. Porém, destacou que a instabilidade do atual cenário econômico global contrapõe essa maior transparência a mudanças frequentes nas sinalizações.
Para o economista-chefe da Votorantim Corretora, Roberto Padovani, o presidente do BC preparou os investidores para um período de reações inesperadas da autoridade monetária. "Ele sinalizou que vivemos em um ambiente mais instável, em que o BC deve reagir rapidamente aos acontecimentos. Acho que estão cientes dos custos disso." Já a economista Mônica de Bolle, da Galanto Consultoria, acredita que o fato de ter frisado tanto o tema foi uma forma de tentar explicar por que a comunicação do BC tem se alterado tanto de uma ata para outra do Comitê de Política Monetária (Copom).