Os efeitos da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis no fim de maio devem contribuir de modo significativo para que a inflação oficial continue a se desacelerar em junho, segundo análise feita por economistas.
A média das projeções coletadas pelo Valor Data com dez instituições para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) é de alta de 0,12% dos preços entre maio e junho, com intervalo entre avanço de 0,09% e aumento de 0,15%. Como no mesmo período do ano passado a inflação oficial subiu 0,15%, o efeito estatístico, segundo o mercado, deve levar o IPCA acumulado em 12 meses a ceder ligeiramente, de 4,99% em maio para 4,96% em junho. O IPCA de junho será divulgado hoje pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A influência do benefício tributário para aquisição de automóveis já apareceu na prévia da inflação oficial em junho, mas deve se acentuar na leitura para o mês fechado. De acordo com os cálculos da LCA Consultores, os automóveis novos devem ter ficado 4,75% mais baratos no mês passado. Essa queda no preço dos novos teve efeito também sobre os veículos usados, que teriam se desvalorizado 3% no mesmo período.
"A contribuição do IPI vai ser importante justamente porque não afeta só os preços dos automóveis novos, arrasta também os valores dos automóveis usados", afirma Fabio Romão, economista da consultoria. Considerando que esses preços tivessem ficado estáveis em junho, diz Romão, o IPCA teria alta mais forte, de 0,34%, o que encerraria a trajetória de desaceleração da inflação no acumulado em 12 meses observada desde setembro, quando o índice alcançou o pico recente de 7,31%.
Além de transportes, a sazonalidade da inflação de artigos de vestuário também vai favorecer o IPCA em junho, segundo Marcelo Arnosti, economista-chefe da BB-DTVM, gestora de recursos do Banco do Brasil. O grupo, diz ele, deve ter aumento de preços inferior a 0,50% em junho, se desacelerando em relação à elevação de 0,89% observada em maio.
Além do fator sazonal, diz Arnosti, essa descompressão também responde a um inverno menor rigoroso. Como a demanda foi mais fraca, algumas redes do varejo anteciparam liquidações para junho, e por isso os preços do vestuário podem ceder mais rapidamente neste ano.
Medicamentos e cigarros, que contribuíram para um aumento de preços acima do esperado em abril, também devem ter as altas totalmente diluídas nessa leitura, segundo previsão de Fabio Romão, da LCA.
Para Arnosti, da BB-DTVM, essa dinâmica favorável vai prevalecer nos próximos meses, mas no fim do ano o IPCA deve se acelerar e registrar altas em torno de 0,50%. Para 2012, a projeção do BB é de alta de 5,1% para o índice oficial de inflação, a mais alta entre as dez instituições consultadas pelo Valor Data. Na média, as estimativas apontam para um IPCA ligeiramente inferior, de 4,96%, com piso das projeções em 4,8%.
Arnosti pondera que alguns fatores fazem com que a inflação tenha certa persistência e, na ausência de movimentos pontuais favoráveis, como é o caso dos benefícios tributários para aquisição de veículos e itens da linha branca, a tendência é que o índice oficial encerre o ano próximo a 5%. "O índice de difusão, ou seja, o número de produtos que apresentou variação positiva no mês, está ainda alto, em 60%. A inflação de serviços, que mostrou alguma acomodação no início do ano, também deve ter mais dificuldade para ceder nos próximos meses, principalmente porque contamos com uma reaceleração do consumo", afirmou.
Por último, segundo Arnosti, a BB-DTVM trabalha com um cenário em que as commodities, principalmente as agrícolas, deixarão de cair no mercado externo no segundo semestre, tornando o cenário internacional menos desinflacionário do que tem sugerido o Banco Central em documentos oficiais.
"Esse conforto que o Banco Central está mostrando pode diminuir nos próximos meses, à medida que a inflação corrente se acelerar", diz Arnosti. No cenário central da gestora, no entanto, permanece a visão de que a taxa básica de juros será reduzida em 0,5 ponto percentual nas duas próximas reuniões do Copom, encerrando o ano em 7,5%.
Fabio Romão, da LCA, argumenta que está confortável com a sua projeção de alta de 4,8% do IPCA em 2012, pois a conjuntura econômica foi nos últimos anos se aproximando ao cenário que a consultoria já traçava. Por isso, diz ele, mesmo que as elevadas expectativas de retomada da atividade no segundo semestre decepcionem, o resultado deve ser de redução da inflação esperada para 2013, e não uma convergência mais acelerada para o centro da meta perseguida pelo Banco Central, de 4,5%, neste ano.