Se maio foi o pior mês para a bolsa brasileira desde a crise financeira de 2008, nada indica que junho será melhor. Esse prognóstico sombrio é praticamente unânime entre os analistas, que cogitam uma melhora do mercado somente a partir do segundo semestre.
"Junho ainda refletirá o cenário de deterioração da zona do euro observado nos últimos dois meses. A volatilidade e a aversão ao risco devem continuar", prevê o sócio-diretor da AZ Investimentos, Ricardo Zeno. "O mercado seguirá observando, dia a dia, a situação na zona do euro, sem deixar de prestar atenção também aos dados de crescimento da economia americana." Vale lembrar que nesta sexta-feira os investidores receberão os dados de geração de emprego nos EUA.
Zeno revela ainda que os grandes investidores - institucionais e estrangeiros - permanecem receosos com o quadro internacional. "A maioria deles não se mostra disposto a voltar a comprar ações agora, apesar de muitos papéis estarem baratos."
O estrategista da SLW Corretora, Pedro Galdi, também vê grande volatilidade na bolsa pelo menos até o dia 17, quando a Grécia realizará novas eleições parlamentares. "Há muita incerteza sobre o futuro da Grécia e sobre a situação dos bancos na Espanha." Galdi cita ainda a desaceleração da economia brasileira como outro ponto negativo para a bolsa. "A indústria está patinando e o governo tenta criar demanda com medidas de estímulo." No entanto, os efeitos das medidas, entre elas a redução dos juros, só devem ser percebidos no segundo semestre. Hoje o mercado saberá qual foi a expansão do PIB no primeiro trimestre.
No último pregão de maio, o Ibovespa conseguiu fechar em alta, reagindo a rumores de que o Fundo Monetário Internacional (FMI) estaria preparando um plano de socorro à Espanha. Além disso, como ocorre em todo fechamento de mês, os gestores de carteiras atuaram para tentar melhorar a rentabilidade de seus investimentos. Também houve ajustes em função das alterações na composição do índice MSCI Brazil, usado como referencial por muitos fundos, cuja nova carteira entra em vigor hoje.
O Ibovespa subiu 1,29% ontem, para 54.490 pontos. Mas, mesmo com a melhora no dia, o estrago no mês já estava feito. A queda foi de 11,9% em maio, marcando o pior mês desde o auge da crise financeira mundial, em outubro de 2008. No ano, o mercado brasileiro acumula baixa de 4%. O volume financeiro alcançou R$ 10,360 bilhões ontem, o maior giro do ano se excluído os pregões com vencimento de opções. Entre as ações mais negociadas, Petrobras PN disparou 4,25%, Vale PNA ganhou 0,74% e OGX ON perdeu 1,05%.
A lista de maiores baixas trouxe Usiminas ON (-13,89%) e PNA (-4,49%). Operadores afirmaram que as ações sofreram pesadas vendas de estrangeiros, preocupados com a situação da siderúrgica, que tenta cortar custos depois de apresentar prejuízo no primeiro trimestre. Além disso, a companhia enfrenta ameaça de greve, uma vez que seus funcionários reivindicam reajuste. O papel ON sofreu ainda com sua exclusão do índice MSCI Brazil.
Entre as altas, destaque para Cosan ON, que ganhou 3,13%, para R$ 29,96. A empresa anunciou seu balanço do ano fiscal de 2012. A divulgação de resultados da companhia segue calendário diferente do restante mercado, em função do ciclo da safra de cana. O lucro chegou a R$ 2,6 bilhões no ano, mais que o triplo do ano anterior. Analistas destacaram o Ebitda de R$ 2,235 bilhões, que veio acima da meta prevista para o ano.
E depois de reportagem do Valor citar problemas de liquidez e de capital no Cruzeiro do Sul, as ações PN do banco desabaram 25%. Os papéis ON do BTG Pactual, cogitado para comprar a instituição, subiram 2,91%.