Recuperação, virada, reversão de tendência, alívio, desafogo. Economistas e analistas de corretoras e bancos usam essas palavras para descrever o rumo que a bolsa brasileira deve tomar daqui para frente. Após apanhar muito e registrar em abril o quarto mês consecutivo de queda, o Índice Bovespa tem grande chance de encontrar força para se reerguer nos próximos meses, afirmam especialistas ouvidos pelo Valor.
O Bank of America Merrill Lynch aponta em relatório dez razões para que o investidor não seja tão pessimista com o Brasil, país que está perto de "um ponto de inflexão em termos de crescimento, resultados das empresas e sentimento". Os preços depreciados de muitas ações podem estimular a volta dos investidores à bolsa, diz Carlos Nunes, estrategista de renda variável do HSBC.
Recuperação, virada, reversão de tendência, alívio, desafogo. Eis um resumo da lista de palavras da qual economistas e analistas de corretoras e bancos têm lançado mão nos últimos dias para descrever o rumo que a bolsa brasileira deve tomar daqui para frente. Após tanto apanhar e marcar em abril o quarto mês consecutivo de queda, o Índice Bovespa tem grande chances de encontrar forças para se reerguer nos próximos meses, afirmam especialistas ouvidos pelo Valor.
O próprio desempenho do Ibovespa no fim de abril seria um sinal de que a reversão estaria próxima. Na semana passada, o índice fechou em leve alta de 0,6%, interrompendo uma sequência de três semanas de forte baixa. Apenas nos dois últimos pregões do mês, subiu 3,06%, reduzindo as perdas acumuladas em abril para 0,78%.
A expectativa - ou esperança - de que o Ibovespa vai, enfim, esboçar uma reação e sair da lama tem como pano de fundo pelo menos dois pontos: uma visão menos sombria sobre a economia local e a ideia de que a desvalorização do índice já teria ido longe demais. No balanço das probabilidades, seriam maiores as chances de uma alta do que de novos escorregões.
Do lado da economia brasileira, crescimento anêmico, temores da mão pesada do governo e dúvidas sobre a disposição do Banco Central (BC) em domar uma inflação ascendente afastaram os investidores, principalmente os estrangeiros, da bolsa local nos últimos meses. Enquanto o ambiente desanuviava lá fora, com os principais índices das bolsas americanas exibindo altas de dois dígitos neste ano, o Ibovespa definhava. "Se você olhar para o cenário externo, não houve nada catastrófico. O que prejudicou a bolsa foram problemas internos. E agora há uma melhora nesse aspecto", afirma Paulo Bittencourt, diretor técnico da Apogeo Investimentos.
Segundo Bittencourt, a alta da taxa básica de juros (Selic) em abril, de 7,25% para 7,50%, sinaliza para o mercado que o BC está atento ao problema inflacionário. Além de mostrar autonomia do órgão em relação ao governo, o movimento de alta da Selic interrompe a deterioração das expectativas de inflação. O resultado, diz, é uma redução das incertezas, o que sempre agrada os investidores.
Aliado ao sentimento de que a inflação não vai sair dos trilhos, há sinais, ainda que tímidos, de aceleração da economia, afirma Bittencourt. E podem começar a surgir projeções melhores para o PIB e os lucros das empresas no fim deste ano e em 2014. "Com isso, a bolsa pode mostrar uma recuperação ao longo dos próximos meses", diz o especialista, que vê o momento como oportuno para uma volta gradual e progressiva do investidor à renda variável.
Na mesma toada, José Francisco Cataldo, estrategista de varejo da Bradesco e da Ágora Corretora, vê chances de o mercado acionário reagir na esteira de uma aceleração do ritmo de crescimento da economia brasileira. Para ter uma visão mais clara sobre o rumo da bolsa, contudo, é preciso esperar o fim da temporada de divulgação dos resultados das companhias no primeiro trimestre. "Com os números que já saíram, o que dá para perceber é que há uma recuperação, ainda que muito tênue, dos lucros das empresas em relação ao ano passado", afirma Cataldo.
Um resultado trimestral que animou o mercado foi o da Petrobras, divulgado no dia 26 de abril. Com isso, os papéis da estatal, que já haviam subido de forma expressiva em março graças ao reajuste surpreendente do diesel, encerraram abril com altas de dois dígitos. A ação preferencial (PN, sem direito a voto), subiu 13,8% no mês passado. No ano, acumula ganho de 7,01%. "A gestão da Graça Foster [presidente da Petrobras] está pondo a empresa novamente na direção correta", afirma Alexandre Espírito Santo, professor de finanças do Ibmec-RJ. "O mercado está se dando conta de que já castigou demais o papel da Petrobras e toda a bolsa brasileira."
Além da estatal de petróleo, Espírito Santo também aposta em uma recuperação das ações da Vale, outra gigante do Ibovespa. Mesmo sem contar com um crescimento chinês de dois dígitos para turbinar os lucros, a empresa apresentou recuperação dos resultados no primeiro trimestre. No período, a Vale registrou lucro líquido de R$ 6,2 bilhões, superando as expectativas dos analistas. "Esse resultado veio de corte de custos e despesas. Isso mostra o trabalho excelente do comando da Vale. E como o papel está muito " descontado", tem boas chances de subir nos próximos meses", afirma o professor.
Os preços depreciados de muitas ações é um dos motivos que podem estimular uma volta dos investidores à bolsa brasileira, diz Carlos Nunes, estrategista de renda variável do HSBC. "A relação risco-retorno da bolsa brasileira está muito desproporcional a de outros mercados."
Um relatório do HSBC do dia 24 de abril mostra, por exemplo, que a bolsa do México está muito mais "cara" que a do Brasil. O múltiplo preço sobre lucro por ação (P/L, que dá uma ideia do tempo de retorno do investimento) da bolsa mexicana está em 18 vezes, bem acima do Ibovespa, de 11 vezes. "Na América Latina, o Brasil é o único destino com tamanho e liquidez suficiente para receber um fluxo grande de recursos", diz Nunes.
Nessa conjuntura, o estrategista afirma que começa a ficar desconfortável manter posições grandes apostando na desvalorização do índice brasileiro. Ele pondera que o ideal é ter uma alocação estratégica em grandes companhias - como Vale, Gerdau, Bradesco, Itaú e Petrobras -, que negociam a um P/L entre 7 vezes e 9 vezes. "Ninguém sabe dizer quando a virada vai acontecer. O fato é que quando o fluxo vier para a bolsa será muito rápido. Quem não estiver com posicionado, vai perder uma oportunidade", diz Nunes.
Otávio Vieira, sócio da Fides Asset Management, faz a mesma ponderação. Diz que os "indicadores técnicos apontam para uma recuperação rápida quando o processo começar". Ele argumenta que o número de contratos de índice futuro vendidos na mão de estrangeiros, ou seja, apostando na queda do Ibovespa, está muito alto e incompatível com a atual situação global. Está no mesmo patamar do ano passado, quando o mundo viveu a crise em países europeus e a discussão sobre o abismo fiscal americano. Na última segunda-feira, os estrangeiros tinham 158 mil contratos vendidos, um pouco menos do que na sexta-feira passada, mas ainda muito maior do que o patamar considerado normal de 100 mil contratos.
No cenário externo, o risco hoje para uma recuperação da bolsa é de uma desaceleração abrupta da economia chinesa. Isso afetaria os preços das commodities e, por tabela, o Ibovespa. Na Europa, após os problemas no sistema financeiro do Chipre em março, a sensação é de melhora do ambiente, com a formação de um novo governo na Itália. E a economia americana, embora com fôlego reduzido, parece longe de uma recaída na recessão. Outro ponto importante são as políticas monetárias expansivas dos bancos centrais ao redor do mundo. "Estamos vivenciando um momento de excesso de liquidez no mundo, com Estados Unidos, Reino Unido e até mesmo o Japão fazendo uma expansão da base monetária", afirma Nunes, do HSBC.
Liquidez significa muito dinheiro disponível para investimentos. E, se o humor do estrangeiro com o Brasil melhorar, parte desses recursos pode começar a desembarcar por aqui.