O uso do câmbio para conter a inflação parece ter chegado ao limite, segundo avaliação de profissionais consultado, para os quais uma eventual tentativa derrubar ainda mais a cotação esbarraria nas demandas da indústria. Assim, o noticiário externo passa a ter ainda mais peso no comportamento da moeda americana ante o real.
Após reconhecer que no último comunicado de política monetária o Banco Central admitiu a piora no balanço de riscos para a inflação, a perspectiva dos agentes agora é que a autoridade monetária trabalhe apenas para evitar que novas pressões sejam agregadas aos preços.
O próprio BC teria sinalizado que não forçará quedas adicionais do dólar ao sugerir há duas semanas que não vai rolar empréstimos oferecidos por meio de leilões de linha realizados ao longo de dezembro, de acordo com informações que circulam nos bastidores. Assim, o mercado terá de devolver no início de fevereiro o equivalente a US$ 1,2 bilhão obtido com essas operações e mais US$ 2,8 bilhões em 1º de março.
"Uma coisa é o BC interferir no mercado com o dólar a R$ 2,15. Outra é a moeda abaixo de R$ 2,05, e o BC iniciar um novo ciclo de intervenções para depreciar ainda mais [o dólar]. Tem outros interesses em volta", diz o superintendente de tesouraria do Banco Indusval & Partners, Daniel Moreli Rocha.
O diretor de câmbio do Banco Rendimento, Carlos Eduardo Andrade, alerta que o único jeito de se controlar a inflação no longo prazo é gastando menos. "Usar o câmbio até pode ter algum efeito no curto prazo mas, com o tempo, isso gera cada vez mais desconfiança e leva a uma espiral negativa para a economia", diz.
O economista-chefe da MCM Consultores Associados, Fernando Genta, não vê mais espaço para nova desvalorização do dólar por causa da inflação. "Se o BC voltar a pesar a mão para derrubar o dólar, vai bater em outros interesses", diz. O mais recente estudo da MCM indica que, no pior dos cenários, caso a taxa de câmbio pulasse do patamar de R$ 2,02 para R$ 2,30, o IPCA ficaria 0,7 ponto percentual mais alto no acumulado dos quatro trimestres seguintes - o que não seria suficiente para que o IPCA batesse no teto da meta, de 6,5%.
Para Carlos Eduardo Andrade, do Banco Rendimento, a discussão que entra em pauta agora é o cenário externo, em especial sobre de que forma o banco central americano começará a retirar os estímulos quando a economia dos EUA consolidar recuperação.
Ontem, o dólar comercial recuou 0,05%, para R$ 2,042, a mínima do dia, após marcar máxima de R$ 2,044 durante a sessão. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), o contrato de dólar futuro para fevereiro cedeu 0,02%, indicando R$ 2,0445. Segundo a clearing da BM&F, que registra cerca de 90% do volume do interbancário, o giro foi de US$ 1,97 bilhão, ante média diária de US$ 2,26 bilhões. "O mercado volta mesmo amanhã", disse Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora, referindo-se ao feriado de Martin Luther King Jr, nos EUA, que deixou Wall Street fechada.
No mercado de juros, as taxas na BM&F tiveram a primeira queda em cinco sessões influenciadas pela desaceleração do Índice Geral de Preços de Mercado (IGP-M) na segunda prévia do mês ante dezembro.