A percepção de que existe um piso em R$ 2,00 para a taxa de câmbio finalmente se consolidou entre investidores. Ao menos é o que sugere a pesquisa Focus do Banco Central, na qual analistas de instituições financeiras elevaram àquele patamar as estimativas para o dólar no fim de 2012 e 2013 pela primeira vez no ano, na mediana das projeções.
Até então, o mercado evitava cravar essa aposta, prevendo que uma melhora consistente no cenário externo permitiria que o dólar se sustentasse abaixo de R$ 2,00 até o fim do ano. Mas repetidas sinalizações por parte do governo de que a taxa de câmbio valorizada é um entrave à recuperação da indústria - e, por tabela, da economia como um todo - acabaram prevalecendo e levando os agentes a consolidarem as projeções do dólar a R$ 2,00.
No início do ano, a mediana das estimativas contidas na pesquisa Focus apontava o dólar a R$ 1,75 para o fim de 2012 e 2013. "O mercado demorou para aceitar que o regime de câmbio mudou", afirma o especialista em câmbio e contas externas da Tendências Consultoria, Bruno Lavieri.
Para o especialista, essa "mudança" ficou clara no início do mês passado, quando o diretor de Política Monetária do Banco Central, Aldo Mendes, afirmou que o BC poderia retomar a compra de moeda americana e que o dólar abaixo de R$ 2,00 não é bom para a indústria, reforçando a avaliação de parte do mercado de que a cotação passou a ter piso naquele patamar.
"Agora, o mercado entende claramente que, por mais que o dólar a R$ 2,00 seja artificial, o governo não está disposto a deixar de usar essa ferramenta para impulsionar a economia", acrescenta Lavieri.
A Tendências prevê que o dólar termine este ano em R$ 2,00, em linha com a mediana das projeções na pesquisa Focus. Para o fim de 2013, a consultoria prevê uma taxa maior, de R$ 2,10. "Não trabalhamos com a ideia de uma ruptura na Europa, mas as coisas vão continuar incertas lá por um bom tempo, por isso nossa previsão de um dólar mais forte no ano que vem", diz Lavieri.
Na avaliação de Mauricio Nakahodo, consultor de pesquisas econômicas do Banco de Tokyo-Mitsubishi UFJ, o fator político por trás da taxa de câmbio não deve permitir que o dólar se mantenha abaixo de R$ 2,00, apesar da expectativa de que o Brasil receba US$ 50 bilhões em Investimento Estrangeiro Direto (IED) neste ano.
"Nossa projeção oficial é R$ 1,95 para 2012 e 2013, mas a combinação do discurso do governo contra o real valorizado e a incerteza que permanece no exterior nos levará a aumentar a estimativa para perto de R$ 2,00", afirma Nakahodo.
Mas ainda há agentes no mercado prevendo que o dólar possa terminar neste e no próximo ano abaixo de R$ 2,00, como o economista-sênior do BES Investimentos, Flavio Serrano, para quem os fundamentos devem favorecer o real nos próximos meses.
"O governo tem capacidade de alterar movimentos no curtíssimo prazo. Olhando num horizonte de médio e longo prazos, ainda vemos potencial de valorização do real", afirma o economista. O BES estima o dólar a R$ 1,95 em dezembro e a R$ 1,90 no fim de 2013.
Serrano explica que essas estimativas refletem, em parte, expectativas de uma melhora no fluxo comercial até o fim do ano, embora não espere nada consistente.
"Já a conta financeira vai depender basicamente do ambiente lá fora, que está bem volátil e dificulta fazer qualquer previsão", diz Serrano.
Na segunda-feira, o câmbio local voltou a mostrar apatia à queda do dólar, à alta das bolsas e à valorização das commodities.
Essa indiferença, no entanto, não foi exclusividade do real. Outras moedas emergentes, como peso mexicano e dólar australiano, também apresentaram modestas variações de preço.
Entre máxima e mínima, o dólar comercial variou R$ 0,007, até encerrar o dia valendo R$ 2,03 na venda, alta de 0,05%.
"O dólar está tabelado", diz um diretor de correta, em referência à banda variação de R$ 2,0 a R$ 2,10.