A Grécia terá de convocar novas eleições gerais para meados deste ano, o que encurtará o prazo para o cumprimento de exigências do pacote de resgate da União Europeia e elevará o risco de saída da zona do euro.
No atual cenário de absoluta incerteza, apenas um ponto fica claro entre especialistas: os partidos não conseguirão formar um governo de coalização no curto prazo. "Existe apenas um consenso: haverá novas eleições", acredita Dyonissis Dimitrakopoulos, professor de política da faculdade de Birkbeck, em Londres.
"Nenhum partido tem força hoje para aprovar mais cortes de gastos em junho", afirmou Costas Laparitsas, da área de legislação e ciências sociais da Universidade de Londres. Os resultados das eleições de domingo foram bastante fragmentados e não deram maioria a nenhum bloco. O Nova Democracia, líder das votações (18,85% dos votos, com 108 assentos no Parlamento), não conseguiu união suficiente para governar.
Agora, o Syriza tenta montar uma coalização de governo, mas não deve ter sucesso. O partido de esquerda foi o grande destaque da eleição, com 16,78% dos votos e 52 assentos. Em seguida, ficou o socialista Pasok (13,18%, 41 assentos) - 35% dos gregos não votaram. As urnas revelaram contradições entre os gregos.
Contra austeridade. De um lado, a população votou claramente contra a política de austeridade, num ambiente de depressão econômica. Entretanto, os números também mostram aprovação à permanência na zona do euro. "Não acredito que seja possível ficar no euro sem cumprir o memorando do pacote de resgate", afirmou Michael Arghyrou, professor de economia da Cardiff University, referindo-se às exigências da Alemanha.
Pelos cálculos do economista, 37% dos votos foram para partidos que apoiam o euro e o acordo de ajustes fechado com a União Europeia. Outros 41% dos votos foram direcionados a legendas que também desejam permanecer na união monetária, mas não querem continuar cortando gastos.
Ou seja, na verdade, apenas a menor parte dos eleitores defende a saída do euro. Numa nova eleição, os partidos terão de deixar esse dilema claro para a população, avalia Arghyrou.
De qualquer forma, a Grécia se verá novamente correndo contra o relógio, pressionada a cumprir prazos e exigências da UE. Para continuar recebendo os recursos do segundo pacote de resgate acertado com Fundo Monetário Internacional(FMI)e a União Europeia (UE), o Parlamento precisa detalhar cortes de mais 11 bilhões no orçamento em junho, algo difícil dentro do atual ambiente político.
Por isso, os temores de que o país poderá deixar a zona do euro voltaram mais fortes do que nunca. "Não há dúvida de que o prazo (para cumprimento de exigências) será apertado", disse o diretor de um banco europeu. "Está óbvio que a Grécia vai ter de sair do euro", disse Laparitsas, da Universidade de Londres.
Possibilidades. Analistas de mercado voltaram a discutir abertamente sobre as possibilidades de saída da Grécia do bloco, embora ainda não acreditem que o caminho seja inevitável.
O JP Morgan, por exemplo, vê possibilidades de abandono do euro como menores de 50%. Já para o Citigroup, o resultado das eleições eleva o risco para 75%.