Não há qualquer dúvida de que o governo Dilma pretende buscar o menor juro real possível até 2014. A possibilidade de que essa taxa decline à casa de 2% - levando o custo do dinheiro no Brasil a um padrão internacional - está no radar e justifica a ruidosa batalha travada entre governo e bancos privados em torno do crédito mais barato.
Mas tão ou mais importante que a perspectiva de financiamentos acessíveis é a preservação do valor da moeda, que pode ser corroído quando a inflação sai do controle. De março para abril, a inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) surpreendeu até o governo. Primeiro porque caiu demais, depois porque subiu além do esperado.
Num quadro de inflação inesperada para baixo ou para cima - como aconteceu nos últimos dois meses -, os bancos centrais agarram-se a dois parâmetros para conduzir a política monetária. De um lado buscam estabilidade de preços e, de outro, a estabilidade financeira. Esses parâmetros são complementares, não excludentes, e recomendam pautar a política monetária pela parcimônia - com cautela.
A política monetária brasileira se encontra nesse ponto que foi, inclusive, indicado na última ata do Comitê de Política Monetária do BC (Copom). Após sinalizar, ao longo do ano, o deslocamento da taxa Selic para um dígito e, em seguida, para um nível ligeiramente acima da mínima histórica, o Copom encerrou a sua última reunião mantendo a possibilidade de reduzir ainda mais o juro, mas com "parcimônia"...
O discurso do BC mudou? Mudou. Mas o cenário também. O alívio observado nos mercados internacionais no primeiro trimestre deixou de existir. Os indicadores de atividade na Europa e nos Estados Unidos, que alimentaram expectativas de reação das economias, voltaram a piorar ao mesmo tempo em que recrudesceu a crise de dívidas soberanas na zona do euro com a economia chinesa, adicionalmente, passando a emitir sinais mais claros de desaceleração.
O mundo piorou em abril com um quadro mais complexo ganhando corpo e dando munição para intensos debates entre bancos centrais que se defrontam com taxas de inflação resistentes, enquanto a atividade econômica está perto do chão.