A necessidade de elaboração de uma política de longo prazo para a retomada do crescimento econômico no Brasil foi o foco da abertura do III Encontro de Economia do Espírito Santo e do II Encontro de Economistas da Região Sudeste, realizados em Vitória nos dias 18 e 19 de outubro. Na ocasião, o economista João Paulo de Almeida Magalhães, presidente do Conselho Regional de Economia do Rio de Janeiro (Corecon-RJ) e professor do Departamento de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), abordou o tema “A necessária e urgente estratégia de longo prazo para o desenvolvimento brasileiro – os graves riscos do curtoprazismo”.
O tema é resultado de um estudo de 130 páginas, que será lançado pela UFRJ até o final deste ano, mostrando que a economia brasileira corre um grave risco de se especializar em commodities agrícolas e industriais, estando, no médio e no longo prazo, condenada ao semidesenvolvimento, a menos que sejam implementadas medidas para evitar a desindustrialização em curso e uma política industrial que permita conferir competitividade internacional a setores de tecnologia avançada.
Magalhães, referindo-se a análises sobre a realidade econômica brasileira realizadas pelo Instituto de Economia Aplicada (Ipea), explicou que a indústria nacional enfrenta atualmente um dos maiores desafios da história. Por um lado, tem de “produzir de forma competitiva, em um contexto de determinantes adversos, sobre os quais não tem controle, pois derivados de decisões do governo: taxas de juros elevadas, altas cargas de impostos, custos elevados de serviços de infraestrutura e, sobretudo, uma taxa de câmbio sobrevalorizada. De outro lado, tem de competir com países extremamente competitivos, inclusive por usarem taxas de câmbio desvalorizadas, como é o caso dos Estados Unidos, e altamente desvalorizadas, como é o caso da China”.
A política brasileira, baseada na produção de commodities agrícolas e industriais, mostra-se “altamente insatisfatória, diante dos maus resultados em termos de crescimento econômico registrados em 2011 e previstos para 2012”. Segundo Magalhães, trata-se de um setor de baixo valor adicionado por trabalhador e, portanto, incapaz de proporcionar produto por habitante do nível do registrado nos países desenvolvidos.
“A atual crise europeia torna ainda mais preocupante esse quadro. Para se livrar dela, os países da região tendem a fechar seus mercados às exportações brasileiras e a usar todos os meios para penetrar em nosso mercado, substituindo o produtor nacional. Essa situação vai se tornar ainda mais séria no caso do colapso do euro, que será inevitavelmente seguido por desvalorização das moedas nacionais dos países da União Europeia”, advertiu Magalhães.
Conforme salientou o economista, diante do fim da bolha decorrente da grande demanda dos países asiáticos, os países especializados em commodities, a exemplo do Brasil, passarão a registrar produto por habitante equivalente, numa boa hipótese, à metade do usufruído pelos desenvolvidos. Se isso atender às suas populações, não haverá problema. “A experiência aponta, contudo, em sentido oposto. As camadas menos favorecidas do País tomarão conhecimento, por meio dos modernos meios de comunicação e dos níveis de consumo de sua alta classe média, da existência de padrões de vida bem mais elevados e passarão a reivindicá-los. Com o elevado peso eleitoral desse grupo, tais reivindicações não poderão ser ignoradas, tampouco poderão ser atendidas em face das dimensões do Produto Interno Bruto (PIB). O provável caos econômico, político e social, decorrente de tal situação, dispensa comentários.”
Para Magalhães, essas dificuldades presentes no Brasil, ao colocarem em dúvida a visão curtoprazista dominante, geraram tanto na opinião pública quanto na academia uma insatisfação com o baixo incremento do PIB, “rompendo o otimismo de vistas curtas que dominava até então” e lançando bases para a instituição de um clima favorável “à discussão de novos meios e modos de recolocar o País na trilha do crescimento acelerado e, portanto, da eliminação do seu atraso econômico”. Esse debate permitirá formular uma estratégia de longo prazo para a economia brasileira, cujo objetivo será proporcionar o pleno desenvolvimento.
Portanto, na avaliação de Magalhães, é preciso fazer com que a política econômica não seja comandada pelas metas da inflação, mas que tenha como base o crescimento econômico e, sem dúvida, dê o papel central à industrialização. Para ele, a responsabilidade do economista brasileiro, nesse contexto, passa por duas ações: corrigir a visão curtoprazista e pensar macroeconomicamente.