A forte queda da produção industrial e a continuidade da perda de ímpeto do comércio levaram a atividade a encolher em maio, avaliam economistas. Após avanço de 0,8% na passagem de março para abril, feito o ajuste sazonal, a média de 14 instituições financeiras e consultorias ouvidas pelo Valor Data aponta para recuo de 1,1% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) na leitura atual, a ser divulgada hoje pela autoridade monetária.
As estimativas para a contração do indicador em maio, que tenta antecipar o comportamento do Produto Interno Bruto (PIB), vão de 0,5% a 2%. Apesar da variação negativa esperada para maio, os analistas consultados ainda trabalham com reação modesta da economia no segundo trimestre. Os indicadores de abril, lembram, tiveram comportamento favorável, enquanto o mês de junho deve mostrar dados mais positivos no setor manufatureiro.
Mariana Hauer, do banco ABC Brasil, afirma que o tombo de 2% da produção industrial na passagem mensal foi determinante para a retração de 0,7% projetada para o IBC-Br. Mesmo sem considerar a queda de 0,8% das vendas do varejo ampliado (que inclui automóveis e material de construção) no período, ela calcula que o índice do BC teria encolhido 0,6% em maio. Além da indústria, a maioria dos setores da economia não está crescendo como antes, principalmente o comércio, diz Mariana.
Para a economista do ABC, a perda de fôlego da demanda e da produção estão relacionadas. "O governo esperava que, dando incentivos ao consumo, a demanda iria aumentar e gerar um círculo virtuoso, levando a indústria a produzir mais, e também a mais investimento", afirma. "No entanto, a indústria só produziu de acordo com sua capacidade até o começo deste ano e, agora, desacelerou."
Segundo Rafael Bacciotti, da Tendências Consultoria, a indústria segue em trajetória de reaceleração, ainda que frágil, e a produção mais fraca em maio está em linha com a maior volatilidade que os dados de atividade vêm apresentando. Em junho, diz, índices que antecedem a evolução do setor manufatureiro já divulgados subiram em relação a maio, sinal de que a produção pode ter voltado ao terreno positivo.
Assim, a estimativa da Tendências de expansão de 0,8% para o PIB entre o primeiro e o segundo trimestres, feito o ajuste sazonal - pouco acima do avanço de 0,6% registrado nos primeiros três meses do ano - se mantém, mesmo com o recuo já observado da atividade em maio. Nos cálculos de Bacciotti, o IBC-Br caiu 1,1% ante abril.
O varejo, contudo, pondera o economista, deve continuar mostrando resultados menores em junho e ao longo do segundo semestre, como reflexo da moderação do mercado de trabalho e do crédito e da piora da confiança do consumidor, diante de um cenário mais pessimista. Com dúvidas também em relação ao investimento, a projeção de Bacciotti, de 2,5% para o crescimento em 2013, está sob viés de baixa. "Pelo que observamos até agora, o resto do ano não deve ser tão bom", diz Mariana, do ABC, que também deve cortar sua estimativa de 2,5% para o PIB.
O superintendente de tesouraria do banco Indusval & Partners, Daniel Moreli Rocha, sustenta que o mês de abril forte para a atividade, junto ao aumento de cerca de 1% esperado para a produção industrial em junho, vai garantir uma alta do PIB "levemente melhor", de 0,65% no segundo trimestre. Na opinião de Rocha, as incertezas quanto ao cenário externo, o dólar mais caro, as manifestações populares e a desaceleração do crédito impediram uma retomada mais consistente.
O economista do Indusval também não tem perspectivas otimistas para o segundo semestre, que pode mostrar piora adicional frente à primeira metade do ano. "Incertezas em relação à política econômica, o retrocesso em relação a contratos de concessão de serviços públicos, a alta do dólar e o cenário externo ainda volátil devem adiar decisões de investimento", diz Rocha, que ainda destaca o ciclo de aperto monetário e o desaquecimento do setor automotivo como fatores de contenção sobre a atividade.