Recorrer a outros indicadores que não a relação dívida líquida/ Produto Interno Bruto (PIB) para avaliar a situação de solvência das contas públicas envolve uma discussão que levanta muito mais fumaça do que fogo, diz o professor da Unicamp, Francisco Lopreato. "A situação fiscal está bastante razoável e qualquer indicador tem boa evolução", diz. Para Lopreato, o governo poderia reduzir o valor do superávit primário e, com isso, não precisaria recorrer a manobras para alcançar o valor estabelecido na Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). "Isso evitaria todo esse burburinho, sem trazer problemas à evolução da dívida."
O professor Luiz Gonzaga Belluzzo também avalia que a única coisa válida nessa discussão é questionar a forma como se calcula o superávit primário. "O problema maior foi esse afã do governo de manter o superávit primário nos níveis prometidos no início do ano lá na LDO", afirma.
Para Lopreato, o que está em disputa é algo mais amplo: uma visão de política econômica e de atuação do Estado. "A visão mais convencional acha um horror a intervenção do governo Dilma e as mudanças no tripé de política econômica. Eu concordo com o que está sendo feito e acho que a mudança da política monetária, com a queda dos juros, vai provocar uma revolução nas condicoes de financiamento da economia brasileira."
Belluzzo diz que as discussões fazem parte mais de uma guerra de posições - insensível a argumentos - e que não vê nenhuma possibilidade de consenso neste momento. Segundo o professor, o governo abriu um flanco importante ao mexer na forma de cálculo de superávit primário sem necessidade, já que atualmente poucos discordam de que o superávit primário pode ser menor em um períodos de contração econômica. "Ele deveria ter deixado o superávit primário despido dos expedientes que foram adotados, chegando a 1,9%, 2%".
Segundo Belluzzo, não há por que olhar a dívida bruta, eliminando os ativos das contas do governo. "O indicador correto da solvência do setor público é a dívida líquida", diz o economista.