Com energia mais barata, economistas acreditam que juro pode ficar estável em 2013
BRASÍLIA E RIO O ministro da Fazenda, Guido Mantega, estimou que a redução nas tarifas de energia elétrica anunciada ontem pelo governo terá impacto de meio a um ponto percentual na inflação de 2013 - que o Banco Central (BC) projeta em 5,2%. Para especialistas, o preço de energia menor ajudará a inflação a ficar dentro da meta do governo no próximo ano, o que deve permitir que o BC mantenha estável a taxa básica de juros ou até mesmo arrisque uma redução, mesmo diante do provável reaquecimento da economia.
Mantega negou que a intenção do governo seja aproveitar o alívio na inflação com a tarifa menor de energia para aumentar o preço dos combustíveis, especialmente o da gasolina, e adiantou que o governo estuda novas medidas para melhorar a competitividade da economia brasileira.
- Isso é muito importante para 2013. Se nós somarmos as outras medidas que estão sendo tomadas, a desoneração que vem sendo feita, isso vai reduzir preço, combater a inflação, reduzir custos - afirmou o ministro, referindo-se ao pacote de redução da energia elétrica.
Segundo o ministro, o governo está numa "cruzada para reduzir custos no Brasil". Segundo fontes, as próximas medidas são o cadastro de bons pagadores e uma lista com novos setores beneficiados pela desoneração da folha de pagamento, como ônibus e táxis.
- Vamos dar mais competitividade para a produção. Não é só indústria. É indústria, comércio, serviços, agricultura. Todos os setores serão beneficiados. Também o consumidor será beneficiado. O consumidor terá sobra de recursos para fazer outras aquisições. Ele fará economia e poderá comprar bens de consumo - disse o ministro, referindo-se ao pacote de energia.
Mantega destacou ainda que o Brasil é um dos poucos países que terá um crescimento acima de 4% em 2013. A projeção do governo é de expansão de 4,5%.
Segundo os especialistas, com a redução do custo de energia, a inflação deve ficar mais controlada em 2013, reduzindo os riscos de uma mudança na trajetória de queda dos juros básicos e até permitindo novos cortes na Selic, dependendo do cenário externo.
- Se tivermos realmente queda do preço de energia, aumenta a chance de a taxa Selic permanecer estável em 2013. E até haveria chance de o BC ser ousado e diminuir ainda mais os juros. O governo pode estar pavimentando um cenário de colocar a Selic em números até abaixo de 7% - afirmou o economista-chefe da MB Associados, Sérgio Vale.
Para a economista da Rosenberg & Associados Priscila Godoy, sem a redução do preço de energia elétrica, pressões como o impacto do aumento das tarifas de importação e de uma aceleração no nível de atividade econômica poderiam fazer com que a inflação alcançasse 6,5% em 2013.
- O Banco Central poderia ter que voltar a subir a taxa de juros, o que não é sua vontade. A redução do custo de energia deixa o cenário mais confortável - disse a economista da Rosenberg & Associados Priscila Godoy.
Esta não deve ser a única medida de estímulo à economia anunciada pelo governo com impacto na inflação. Em junho, a inflação pelo IPCA ficou em 0,08%, com forte influência da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para automóveis.
A previsão de especialistas para o impacto da redução da energia na inflação é de até 0,7 ponto percentual, não muito distante da estimada por Mantega. A maior parte, de meio ponto percentual, virá do impacto direto da menor tarifa de energia para os consumidores. Já o restante, 0,2 ponto percentual, deve ser do repasse, para os preços dos produtos finais, do menor custo da energia paga por indústria e serviços. Segundo Sérgio Vale, se houver um repasse de apenas 10% da queda do insumo - que é 4% do custo total médio da indústria -, o impacto na inflação deve ser de 0,13 ponto percentual, enquanto a parte de serviços, de 0,1 ponto percentual.
Para Vale, a redução do custo de energia abre espaço para o reajuste em combustíveis:
- (O reajuste) pode acontecer este ano ainda.