Ao contrário do Planalto, que anunciou corte de 18% na tarifa de energia, o Banco Central prevê queda de 11%. Quanto aos combustíveis, o aumento será de 5%.
Banco Central prevê redução de apenas 11% para energia contra os 18% a 32% anunciados pelo governo. E alta de 5% para o combustível
A inflação vai pesar — e muito — no bolso dos consumidores neste ano. Apesar da redução na conta de luz, estimada pelo Banco Central em 11%, outros itens importantes no orçamento doméstico sofrerão reajuste. Abastecer o carro com gasolina, por exemplo, ficará 5% mais caro pelas previsões da autoridade monetária. Os reajustes das passagens de ônibus e de metrô, mesmo adiados para abril e junho, deverão alcançar, no mínimo, 11%. Ou seja, o que o governo deu com uma mão, será tirado com outra.
Na média, os preços administrados pelo poder público vão subir pelo menos 3% ao longo de 2013, e serão responsáveis pelo aumento de quase um ponto percentual no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do ano, resultado que estreitará a margem de manobra para o Banco Central acomodar as muitas pressões por reajustes. É importante destacar, porém, que a autoridade monetária foi conservadora nas suas previsões. Em relação à gasolina, o Ministério da Fazenda já admitiu que a correção será de 7%, associado a um aumento entre 4% e 5% do diesel. No caso da eletricidade, os 11% de queda estão longe dos 18% a 32% anunciados pela presidente Dilma Rousseff.
Constrangimento
As divergências de números, por sinal, provocaram constrangimentos dentro do governo. Ao ser questionada sobre a alta da gasolina, Dilma disparou: "Eu não falo sobre aumento da gasolina. Falo sobre a redução da conta de energia elétrica, de 18 a 32%". Já o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, afirmou que não é a autoridade monetária que define o percentual de aumento dos combustíveis, mas o Conselho de Administração da Petrobras. Segundo ele, o número apontado pelo BC é apenas um cálculo feito sobre uma simulação. A petroleira tem pedido elevação três vezes superior à projetada pelo Banco Central — 15% —, índice suficiente para recompor a defasagem em relação ao mercado internacional e permitir a execução de investimentos bilionários.
Nos cálculos de Eduardo Velho, economista-chefe da Planner Corretora, caso a previsão do Banco Central para o combustível se confirme, o impacto sobre o IPCA será de 0,2 ponto percentual. Se a Petrobras conseguisse os 15%, o peso sobre o indicador ficaria em 0,6 ponto. Ele avalia, porém, que o Planalto tentará evitar a elevação de outros preços monitorados e administrados para que o BC não seja obrigado a subir juros para conter a inflação. "Não será surpresa se o governo adotar, ao longo do ano, medidas adicionais para reduzir ainda mais a inflação dos administrados", frisou. Jankiel Santos, economista-chefe do Espirito Santo Investment Bank, argumentou que a redução dos preços da energia elétrica compensará, com folga, a alta dos combustíveis. "O impacto será positivo, mas a inflação do país ficará, no fim do ano, bem próxima do que foi em 2012, 5,8%", calculou.
Superavit menor
Decepcionado com o desempenho da inflação e da economia, o BC adotou um tom mais realista. Na ata da última reunião do Copom, admitiu que a carestia se disseminou intensamente pela economia e que o crescimento, em contraponto, avança em ritmo ainda frustrante. Adjetivou a inflação desse início de 2013 como resistente. "O Copom avalia que a maior dispersão, recentemente observada, de aumentos de preços ao consumidor e a reversão de isenções tributárias (IPI de carros e eletrodomésticos), combinadas com pressões sazonais e outras localizadas no segmento de transportes, tendem a contribuir para que, a curto prazo, a inflação se mostre resistente", justificou no documento.
Diante desse quadro, a instituição lavou as mãos. Disse que os juros — atualmente em 7,25% ao ano, o menor nível da história — já não são mais suficientes para estimular a retomada da atividade. A partir de agora, destacou o BC, o país terá que ampliar os investimentos produtivos e a oferta de mão de obra qualificada. "Dada a sua natureza, portanto, esses impedimentos não podem ser endereçados por ações de política monetária", assinalou.
O BC deixou claro, ainda, que não trabalha mais com o cumprimento da meta cheia de superavit primário, de R$ 155,9 bilhões. Na ata divulgada ontem, o BC retirou a expressão "sem ajustes", que, tradicionalmente, é usada para explicitar que espera o cumprimento da economia total para o pagamento de juros da dívida pública. "O BC só reconheceu o que todo mundo já sabe. O próprio governo, no fim do ano passado, assumiu a necessidade de fazer deduções e usar o fundo soberano para cumprir a meta de superavit", observou Jankiel Santos.