Pela pumeira vez este ano, a taxa de inflação oficial ficou abaixo de 6% no acumulado em 12 meses. Em setembro, o índice Nacional de Preços ao onsumidor Amplo (IPCA), indicador que baliza a política monetária nacional, ficou em o,35%. Com isso, o número em 12 meses ficou em 5,86%, voltando ao patamar de dezembro do ano passado, quando registrou 5,84%.
Ma comparação com agosto, quando o IPCA ficou em 0,24%, houve uma aceleração, creditada principalmente ao aumento de 16,09% nas passagens aéreas. Mas, na comparação com setembro do ano passado, o número recuou - foi de 0,57% em 20L Nesse caso, a queda pode sei atribuída principalmente aos combustíveis e ao grupo de alimentos e bebidas.
Em Brasília, o número foi comemorado. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou ter ficado satisfeito com o resultado do IPCA, mas disse que o governo não vai descui-dar do controle da inflação. "O IPCA de 0,35% é menor que o registrado no mesmo período do ano passado e do ano retraído. Isso significa que a inflação está sob controle", disse.
Apesar do número positivo, analistas preferiram um tom mais cauteloso, uma vez que a depreciação do câmbio e um eventual reajuste da gasolina podem impulsionar a inflação novamente.
A grande incerteza que ainda pesa nas projeções, segundo o economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat, é o reajuste dos combustíveis. Para ele, os sinais têm sido divergentes, mas é essa decisão que vai determinar se a inflação ficará entre 5,8% e 5,9% no ano (sem aumento) ou em 6% (com reajuste).
O desempenho dos preços administrados pelo governo também impedem maior otimismo. Segundo o IBGE, o índice de monitorados cresceu apenas 0,16% em setembro, com alta de 1,13% em 12 meses - bem abaixo do índice geral do IPCA.
Na variação mês a mês, o IPCA deve seguir em aceleração, incorporando com mais intensidade os efeitos do câmbio desvalorizado, ainda concentrados nos preços do atacado, avaliou o economista-chefe do Banco Mizuho do Brasil, Luciano Rostagno. "O BC tem de continuar a elevar os juros,que a margem para acomodar nu os choques está estreita", disse.
Influências. Em setembro, com a alta de 16,09%,as passagens aéreas ficaram no topo dos impactos de alta no IPCA, com pressão de 0,08 ponto porcen-tual. Sozinhas, elas impulsionaram o grupo de transportes, que teve alta de 0,44% (após meses de deflação em função das reduções nas tarifas de ônibus).
Para Combat, o reajuste é reflexo do início da alta temporada, e ainda há espaço para novos aumentos, ainda que em taxas menores. "As companhias aproveitam o período para repassar aumento de custos", observou.
As companhias argumentam que não têm mais como não repassar esses custos, especialmente após a alta recente do dólar. "As empresa fizeram a lição de casa para lidar com os custos, por exemplo, trocando aeuncives por outras mais modernas que consomem menos combustível, aprimorando procedimentos e melhorando a gestão. Mas essas medidas chegaram ao limite", disse, em nota, o presidente da Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear), Eduardo Sanovicz.
Já o pão francês, segundo na lista de vilões, tem sofrido com a redução na oferta de trigo no mercado internacional e com o câmbio desvalorizado, uma vez que o Brasil é importador da commodity, O pãozinho ficou 3,37% mais caro em setembro, com impacto individual de 0,04 ponto porcentual. No ano, a alta do pão francês chega a 11,39%, e em 12 meses, a 14,79%.
A inflação nos serviços é outro ponto que preocupa os economistas. Na passagem de agosto para setembro, a média de preços do setor subiu de 0,60% para 0,63%, mantendo-se em patamar "relativamente alto", disse a coordenadora de índice de preços do IBGE, Eulina Nunes dos Santos. Em 12 meses o índice saiu de 8,58% para 8,73%.
No caso dos eletrodomésticos, o economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luís Otávio de Souza Leal, credita o aumento de 2,03% em setembro à mudan-ça no IPI. Para Eulina, houve influência do câmbio, além de aumento na demanda provocado oela concessão de crédito pelo Minha Casa Melhor, o que propilou elevação de preços.