Para analistas, economia deve ter crescido no segundo trimestre, mas queda nos índices de confiança ameaça resultado de julho a setembro
É grande o risco de um Produto Interno Bruto (PIB) negativo no 3.0 trimestre. Segundo analistas, uma possível contração da economia entre julho e setembro será reflexo da queda nos índices de confiança de consumidores e empresários, desempenho pior da indústria em razão de níveis mais elevados dos estoques e do impacto da recente alta na taxa de juros.
Nos cálculos de Sergio Vale, economista-chefe da consultoria MB Associados, o PIB do 2.° trimestre deve ter uma expansão de 1,1% sobre o trimestre anterior, mas no 3.° trimestre deverá recuar 0,2%. "A probabilidade (de PIB negativo no terceiro trimestre) antes de junho, com dólar e manifestações, era de 10%. Saltou agora para 80%. O maior impacto negativo é nas expectativas, especialmente para consumo das famílias e investimento."
Indagado sobre quais os fatores que podem pressionar o PIB para baixo,Vale disse que "especialmente o consumo e o investimento", do lado da demanda. Já do lado da oferta, ele disse que a indústria deve reverter os bons ganhos no 2.° trimestre. "O (setor) de serviços deve continuar a tendência de crescimento muito lento.Assim, diria que, novamente, quem vai travar no 3.° trimestre seráaindús-tria, especialmente porque tivemos um 2.° trimestre bastante forte na produção industrial."
Já o economista-chefe da MCM Consultores, Fernando Genta, acredita que a probabilidade de um PIB negativo no terceiro trimestre é "razoável", por volta de 40%. "Dentre os fatores, podemosmencionaro início ruim da indústria, o tombo de todos os indicadores de confiança e os impactos iniciais do aperto da política monetária." Ele estima que a economia brasileira vai crescer 1% no 2.° trimestre ante o período anterior, mas para o3.° trimestre suaesti-mativa é de crescimento zero sobre o 2.° trimestre.
Em relatório enviado a clientes na sexta-feira, os economistas do Itaú Unibanco revisaram para baixo as estimativas de crescimento em 2013 e 2014 para, respectivamente, 2,1% e 1,7%. Um das razões é o desempenho esperado para o crescimento no 3.° trimestre.
"A expectativa de um crescimento mais baixo no 3.° trimestre deste ano (de 0,5% para zero) reduziu em 0,3 ponto por-centual o efeito estatístico que estimamos que o PIB deste ano deixará para o PIB de 2014. Além disso, estimamos que o crescimento mais baixo no 2.° semestre elevará a taxa de desemprego, desacelerando o ritmo de aumento da massa salarial real e do consumo", diz o
relatório do Itaú Unibanco. Para o 2.° trimestre, o banco estima expansão de 1%.
E qual o impacto de um PIB negativo no 3.° trimestre? "Poderia agravar a confiança dos investidores, em especial os investidores internacionais", respondeu Genta. "Isso consolidaria a percepção cada vez maior de baixo PIB potencial ao redor de 2%,podendo prejudicar inclusive o programa de concessões do governo federal."
Na opinião de Sergio Vale, o impacto é relevante, embora não altere asuaprojeção de crescimento de 2,1% no ano. Para isso acontecer, ressaltou ele, o 4.° trimestre terá de fechar com 0,5% sobre o trimestre anterior. "Aliás, esses números baixos, se arrastando próximo de zero, parecem cada vez mais prováveis ao longo dos próximos trimestres. 2014 deve ser ainda pior, dada a convicção do governo de que está tudo bem." A perspectiva pior para o crescimento da economia não será sem custo para as contas fiscais, segundo os economistas do Itaú Unibanco: "Dada a nossa revisão para baixo no crescimento econômico projetado para 2013 e 2014, reduzimos nossa estimativa para a arrecadação tributária em R$ 4 bilhões (0,1% do PIB) para 2013, e em R$ 11 bilhões (0,2% do PIB) para 2014", afirma o relatório.
Arrecadação
Para analistas do Itaú Unibanco, contas fiscais serão afetadas pelo crescimento menor; estimativa de arrecadação tributária é reduzida em R$ 4 bilhões para 2013 e em R$ 11 bilhões em 2014.
PRESTE ATENÇÃO
1. Sergio Vale, da MB Associados, prevê queda de 0,2% no PIB do 3.° trimestre em relação ao trimestre anterior. Mas, no ano, sua previsão de crescimento continua mantida em 2,1%.
2. Fernando Genta, da MCM Consultores, prevê que no 3.° trimestre o crescimento sobre o trimestre anterior será zero.
3. Em relatório, os economistas do Itaú Unibanco também acreditam que o PIB do 3.° trimestre terá crescimento zero, e no ano a expansão será de 2,1%.