As bolsas subiram com força, ontem, depois que o presidente do Banco Central Europeu (BCE), Mario Draghi, sinalizou que a instituição fará o que for necessário para evitar o colapso da Zona do Euro, incluindo medidas para baixar o custo da dívida de países como Espanha e Itália, que estão no centro da turbulência financeira. "O BCE está pronto para fazer o que for preciso para preservar o euro. E, acreditem em mim, será suficiente", afirmou Draghi em uma conferência em Londres.
Os comentários da maior autoridade monetária europeia, que comanda uma das poucas instituições com poder de fogo suficiente para enfrentar o jogo pesado do mercado financeiro, desencadeou imediatamente uma onda altista no mercado acionário, valorizou o euro e provocou a queda dos títulos alemães — um efeito positivo, nesse caso, já que era para esses bônus, considerados seguros, que os investidores mais temerosos estavam correndo nas últimas semanas para proteger seus recursos.
Na Europa, o índice FTSEurofirst 300, que reúne as principais ações europeias, fechou em elevação de 2,30%, com destaque para papéis do setor bancário e de mineradoras. A onda de otimismo impulsionou ainda as bolsas de Londres, que subiu 1,36%, de Frankfurt, que teve ganho de 2,75%, e de Paris, onde a alta alcançou 4,07%. Mas a valorização foi ainda maior nos países que estão tendo mais dificuldade para se financiar: em Milão, o pregão avançou 5,62% e em Madri, 6,06%.
O clima favorável criado por Mario Draghi foi ainda reforçado pelo presidente da Comissão Europeia (órgão executivo da União Europeia), José Manuel Barroso, que anunciou para o inicio de setembro uma proposta para criar um mecanismo único de supervisão dos bancos da região. "Estamos trabalhando intensivamente nisso", afirmou, durante visita à Grécia.
A esperança de que os líderes poderão evitar o pior impulsionou também a moeda comum europeia, que foi cotada a US$ 1,228, com elevação de 1% em relação ao dia anterior. Nos Estados Unidos, os mercados acompanharam o rali e o índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York subiu 1,67%. No Brasil, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) teve recuperação de 2,65%, o maior ganho diário das últimas quatro semanas. No mercado de câmbio, o dólar caiu pelo segundo dia consecutivo frente ao real, perdeu 0,71% e terminou o dia cotado a R$ 2,0224 para venda.
Risco
A onda de euforia, no entanto, não convenceu a totalidade dos analistas. "O mercado está irritado e tende a reagir com algum exagero a qualquer notícia, para cima ou para baixo", disse Eduardo Dias, supervisor de investimentos da corretora Omar Camargo, em Curitiba. "A alta hoje é mais uma acomodação de preços em um mercado que já havia caído bastante."
Para lembrar que a crise ainda está longe de chegar ao fim, a diretora do Fundo Monetário Internacional (FMI), Christine Lagarde, afirmou que, embora a Europa esteja no centro da turbulência, os Estados Unidos não resolveram seu problema fiscal e ainda representam um risco considerável.