Essa é umas das conclusões do estudo “Produtividade no Brasil – Desempenho e Determinantes”, divulgado nesta quinta-feira (20) pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pela Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), órgãos estratégicos ligados à Presidência da República.
O levantamento aponta que tal comportamento provavelmente se deve a um uso pouco adequado do fator trabalho. “Os motivos que levariam a esse uso pouco adequado do fator trabalho não passam por custos do trabalho em si, mas por uma organização do trabalho mais eficiente na produção e/ou uma alocação dos indivíduos trabalhadores [com suas respectivas capacidades] nas empresas onde de fato suas características seriam melhor aproveitadas mas com validade para todas as demais.”
Ou seja, o Brasil precisa avançar na qualificação da mão de obra. É consenso entre economistas que a solução para essa questão é melhorar a educação para conseguir atender demandas tecnológicas e elevar o nível de instrução e produtividade do trabalhador. “A queda da produtividade parece advir de inadequação de uso do fator trabalho, não de uma ineficiência técnica problemática ou irreversível.”
A mudança estrutural, ou seja, a mudança de importância relativa entre as atividades, também desempenha um papel importante na evolução da produtividade por meio, dentre outros fenômenos, do deslocamento da mão de obra dos setores menos produtivos para os setores mais produtivos.”
Quem é exceção
Segundo o estudo, a agroindústria e a indústria química são exceções e registram ainda uma elevação da produtividade. Coincidência ou não, esses dois setores avançam influenciados por multinacionais que têm seus negócios sendo revolucionados por tecnologia de ponta, com maquinários guiados por GPS, planilhas de alta complexidade, por exemplo.
No entanto, há no material outras conclusões que tentam solucionar enigmas econômicos estruturais que fariam parte da “armadilha do lento crescimento” vivida pela economia nacional.
O estudo foi planejado pela gestão do ministro Marcelo Neri (titular da Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República) – economista e fundador do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (CPS/FGV), onde atuou por 12 anos, período no qual produziu estudos sobre o surgimento da nova classe média brasileira, com a ascensão da classe baixa à classe média, em decorrência da ascensão de mobilidade de renda das classes C e D.
Brasil ficou a frente de Alemanha e México na evolução da produtividade
De 1995 até 2009, o Brasil ficou a frente da Alemanha e México, no meio do caminho entre essas duas nações e China e Estados Unidos.
No capítulo 7 do estudo, há um comparativo da evolução da produtividade do Brasil e seus principais parceiros comerciais (China, Estados Unidos, Alemanha e México), segundo dados compilados de estatísticas harmonizadas para 40 países de várias regiões do planeta, com base no World Input-Output Database (WIOD). Os dados foram retirados do Sistema de Contas de Nacionais (SCN) e calculados pelos institutos oficiais de estatística de cada país, além de dados de comércio exterior retirados do sistema Organização Mundial do Comércio (OMC).
“É fraco o desempenho do Brasil durante praticamente toda a série. O crescimento acumulado até 2005 foi de apenas 5,6% e começou a ser revertido apenas em 2006, momento em que as taxas de crescimento da economia passaram a apresentar um desempenho superior à média do período 1995-2002.”
Ainda assim, o crescimento acumulado da produtividade foi de apenas 13,6% para todo o período 1995-2009, o que significa uma taxa média de crescimento anual de apenas 0,9%.
A Alemanha ficou abaixo do Brasil, apesar de apresentar um desempenho bastante consistente. A nação europeia viveu um declínio na evolução da produtividade decorrente do início da crise de 2008/2009, que fez o país cair de um crescimento acumulado de 15,6% em 2007 para 9,1% em 2009.
A China destoa totalmente das nações observadas, com a evolução média anual da produtividade do trabalho de 8,8%, enquanto o acumulado no período chegou a 226,8%.
Os Estados Unidos apresentaram a segunda melhor performance, com crescimento acumulado de 33,8%, média anual de 2,1%, e foram um dos únicos, juntamente com a China, que elevaram sistematicamente sua produtividade durante todo o período.
O México por sua vez apresentou um comportamento bastante inconstante ao longo do período, com um bom crescimento no fim da década de 1990, ficando praticamente estável durante a década de 2000. Segundo o estudo, este foi o país (entre os quatro analisados) mais afetado pela crise que eclodiu em 2008-2009. O crescimento acumulado, que já era de apenas 7,1% em 2007, foi completamente perdido em dois anos, a ponto de chegar em 2009 com uma retração acumulada de 3,8%, o que representou uma perda de produtividade média anual de 1,4% no período 1995-2009.
O livro aponta fatores que teriam relegado o estudo da produtividade a um segundo no País, como o foco no combate à inflação, entre as décadas de 1970 e 1990, e na redução da desigualdade, na década de 2000.
Fonte: Economia Ig