Gonçalves, do Banco Fator, faz parte do grupo que acredita em acordo parcial para a questão do abismo fiscal
As preocupações em relação ao "abismo fiscal" nos Estados Unidos - uma combinação de bilhões de dólares em aumentos de impostos e cortes de gastos públicos agendados para entrar em vigor em janeiro - provocaram vendas e levaram a correções de diversas cotações nesta quinta-feira no Ibovespa. Depois de acumular alta de 6,06% em dezembro até quarta-feira, o índice fechou em baixa de 0,89%, para 60.415 pontos.
A bolsa iniciou os negócios de lado, e tudo indicava que seria mais um dia de pouco volume e variação restrita. O giro financeiro confirmou-se fraco e encerrou o dia em R$ 4,7 bilhões, mas o sinal piorou. A mudança ocorreu por volta das 13 horas, após declarações nada animadoras do líder da maioria democrata no Senado dos Estados Unidos, Harry Reid. "Parece que estamos caminhando para o abismo fiscal", afirmou.
Além disso, pesou a confiança do consumidor do Conference Board, que caiu para 65,1 em dezembro, ante 71,5 de novembro. O número veio bem abaixo das estimativas dos analistas, de 70.
"Todos aguardam os próximos passos do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama", diz o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco de Lima Gonçalves. Obama retornou de sua folga no Havaí e o mercado espera novidades sobre o abismo fiscal. Mas fica cada vez mais forte entre os analistas a sensação de que uma definição sobre essa questão será empurrada para o último minuto.
Gonçalves reforça a linha dos especialistas que acreditam em um acordo parcial, já que o calendário está ficando apertado. "Os republicanos não aprovarão na íntegra a proposta democrata, mas o Congresso também não pode deixar acontecer o abismo", diz. "É mais provável que democratas e republicanos anunciem alguma decisão somente na segunda-feira, depois de passar o fim de semana em reuniões."
Hamilton Moreira Alves, estrategista do BB Investimentos, tem a mesma leitura. Ele comenta que o Ibovespa está numa linha frágil e corre o risco de perder os 60 mil pontos. "Se nada for anunciado nesta sexta-feira, há grandes chances de os investidores desanimarem. A falta de volume comprador deve potencializar essa queda", afirma.
Os papéis que mais perderam no Ibovespa, com ajustes de final de ano, foram Rossi Residencial (-7,66%) e V-Agro (-4,87%).
Petrobras também ficou entre as maiores baixas do índice. As ações preferenciais caíram 3,24% e as ordinárias, 3,41%. Segundo operadores, os papéis devolvem os ganhos que acumularam recentemente na expectativa de ajuste de preço da gasolina.
Pesou, sobretudo, a declaração da presidente da estatal, Maria das Graças Foster, ao jornal "O Globo" no fim de semana. Em uma entrevista publicada no domingo, ela disse que o plano de investimentos 2012-2016 teve como premissa um aumento de 15% nos preços dos combustíveis no período. Levando-se em conta os reajustes que aconteceram neste ano, ainda haveria espaço para um aumento de 6% na gasolina e de 4% no diesel. Os investidores acharam pouco.
Entre as demais blue chips, Vale PNA subiu 0,27%, OGX caiu 1,36%, Itaú PN recuou 1,65% e Bradesco PN teve baixa de 1,82%.