Na falta do tão temido pacote para o setor elétrico, que acabou desmembrado e adiado, parte para hoje e outra parte para semana que vem, os investidores se surpreenderam ontem com as medidas protecionistas anunciadas pelo governo. O imposto de importação de cem produtos de diversos setores, como siderurgia, autopeças e plásticos, foi elevado para até 25% "por razões de desequilíbrios regionais causados pela conjuntura econômica internacional", conforme a nota divulgada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.
A notícia fez o Ibovespa descolar do mercado externo e subir 1,12%, para 56.863 pontos. "Foi um evento local bastante positivo, dentro de um cenário externo cheio de incertezas", destacou o operador da mesa de clientes private da Icap Brasil Corretora, Illan Besen. As ações PNA (17,96%) e ON (9,43%) da Usiminas foram destaque de valorização, após analistas avaliarem que a fabricante de aços planos será uma das mais beneficiadas. CSN ON (8,15%) e a produtora de resinas Braskem PNA (5,62%) também subiram forte em função das medidas protecionistas. O analista Pedro Galdi, da SLW Corretora, explicou que Usiminas e CSN são bastante expostas à concorrência dos produtos estrangeiros. "Cerca de 60% dos produtos da Usiminas concorrem com importados, enquanto na CSN essa parcela é de 30%, e na Gerdau, de 5%."
Na outra ponta do Ibovespa, Rossi Residencial ON (-6,97%, a R$ 5,07) foi a maior baixa pelo segundo dia seguido. A construtora pretende fazer um aumento de capital de R$ 500 milhões, ao preço de R$ 4,50 por ação. Segundo analistas, a operação representa uma diluição de 42% dos atuais acionistas e o preço proposto está bem abaixo do valor de mercado.
Apesar de já ser quinta-feira, a semana começa efetivamente hoje nos mercados internacionais, com os investidores de olho na reunião do conselho do Banco Central Europeu (BCE). Amanhã, quando a bolsa brasileira estará fechada devido ao feriado do Dia da Independência, o foco estará nos números de geração de emprego nos Estados Unidos, o chamado "payroll". Desde a declaração dada no fim de julho pelo presidente do BCE, Mario Draghi, de que faria o que fosse necessário para manter o euro, os investidores estão carentes de fatos concretos.
A expectativa também recai sobre o Federal Reserve (Fed, o banco central americano), que se reúne na semana que vem e poderá anunciar uma terceira rodada de estímulos à economia americana, conhecida como "quantitative easing", ou QE3. Até agora, houve apenas sinalizações nesse sentido, por meio da ata da última reunião do Fed e do discurso feito semana passada pelo presidente da instituição, Ben Bernanke, em Jackson Hole. "O investidor está em compasso de espera, na expectativa de que o BCE anuncie alguma medida ou que o Fed implemente o QE3", afirma Besen, da Icap. Ontem, as bolsas americanas tiveram mais um pregão morno e fecharam de lado.