O raciocínio prevalente no mercado de juros futuros é o seguinte: "O governo não iria arcar com o ônus político de mudar a poupança para fazer um corte moderado da Selic".
Partindo de tal pressuposto, Selic em 8,5% passa a ser "teto" para a taxa básica de juros. E é isso que as taxas futuras mostram na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F).
Dois cortes de meio ponto já estão no preço, projetando Selic a 8% ao ano. Como nenhuma autoridade deu aceno sobre o "piso" da Selic, cabem apostas de juro ainda menores.
O chefe de economia e estratégia para o Brasil do Bank of America Merrill Lynch, David Beker, acredita em juro básico de 7,75% ao ano. E seu raciocínio é igual ao desenhado nas linhas acima.
De acordo com especialista, a inflação de curto prazo é confortável e os dados de atividade são fracos. Com isso, o BC pode arriscar um pouco mais e fazer reduções adicionais da Selic.
"E o mercado está dando o benefício da dúvida ao Banco Central", diz, destacando a forte queda nos contratos de curto e longo prazos dos juros futuros.
No pregão de sexta-feira todos os vencimentos fizeram novas mínimas históricas. Na semana, a queda acumulada foi de 0,30 a 0,50 ponto percentual. "Não dá para lutar contra esse fluxo vendedor", diz um estrategista.
A queda acentuada das taxas também gerou uma série de "stops" de comprados (aquele que ganha com a alta das taxas). O comprado chegou ao seu limite de perda e foi obrigado a mudar de posição. Com isso, a pressão de baixa sobre as taxas aumentou.
Nas mesas, os operadores apontam que um grande banco nacional, que vinha defendendo posição comprada, foi obrigado a mudar de mão, para evitar perdas maiores.
Apesar dessa derrubada das taxas futuras e das apostas em Selic cada vez menor, a preocupação com a inflação em 2013 é tema recorrente.
Mas como disse um gestor, essa não é a hora de colocar isso no preço. Não tem como montar uma posição comprada em juros esperando que a taxa futura vá subir. "Esse não é o momento. O risco de ser esmagado é muito grande", diz.
Beker também compartilha de tal visão. Para ele, o mercado só deve mudar o modo de operação quando o ciclo de corte estiver com um encerramento definido. De fato, o estrategista do BofA Merrill Lynch, acredita que as taxas dos contratos futuros podem cair um pouco mais.
No câmbio, o dólar subiu 2% na semana e fechou a R$ 1,926, maior cotação desde julho de 2009. No ano, o preço sobe 3%.
"O governo quer um novo equilíbrio com juro mais baixo e câmbio depreciado", diz Beker.
A sinalização dada pelo governo é de que enquanto as medidas de estímulo à atividade - como corte de juros e pacotes de benesses à indústria - não mostrarem o efeito desejado, eles podem "ajudar" mantendo o real desvalorizado.