MADRI e RIO. Desconfianças em relação à crise das dívidas na Europa voltaram a assombrar os investidores globais ontem. As taxas pagas pelos títulos soberanos da Espanha subiram, turbinando um movimento maior iniciado em meados de março, de queda das bolsas de valores. O Ibovespa, índice de referência da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa), recuou ontem 1,88%, a 61.738 pontos, menor nível desde 18 de janeiro. O dólar comercial subiu 0,77%, a R$ 1,833, no maior patamar desde 9 de janeiro.Na Espanha, mesmo com o anúncio de mais cortes no orçamento público na segunda-feira, a taxa de retorno dos títulos de dez anos subiu a 5,97%. Quanto maior a taxa de retorno, maior a percepção de risco dos investidores. Com isso, aumentou a diferença para os papéis da Alemanha (considerados referência na região) para 4,33 pontos percentuais. O principal índice da Bolsa de Madri recuou 2,96%, acumulando baixa de 13,22% no ano, pior desempenho entre as principais bolsas do mundo, segundo a agência Bloomberg News.
As taxas dos títulos da Itália também subiram e a Bolsa de Milão afundou 4,98%. Também caíram Londres (2,24%), Paris (3,08%) e Frankfurt (2,49%). Por causa do feriado de Páscoa, que na Europa inclui a segunda-feira, os mercados europeus tiveram ontem o primeiro pregão desde o anúncio dos números de emprego dos Estados Unidos (na sexta-feira), que vieram abaixo do esperado.
China volta a preocupar
o mercado financeiro
Preocupações em relação à desaceleração do crescimento da economia da China também vêm assustando investidores desde o mês passado. Dados divulgados ontem alimentaram o pessimismo: as importações chinesas cresceram, em março, cerca da metade da previsão de analistas ouvidos pela Bloomberg News.
As correções nas cotações, que reduziram as altas acumuladas no ano em diversas bolsas, também reagem ao movimento de investidores embolsando os lucros. O Ibovespa chegou a acumular alta de 20,5% na máxima do ano (13 de março) e, após o pregão de ontem, reduziu a alta anual para 8,78%.
Esse movimento é liderado pelos mercados americanos. Índices de ações que, em março, aproximaram-se das máximas históricas começaram a cair. Ontem, o Dow Jones recuou 1,65%, o S&P 500 caiu 1,71% e o Nasdaq perdeu 1,83%. No mês, a queda do Dow Jones está em 3,75%.
Segundo analistas, no entanto, parte do movimento de embolsar lucros deve-se à rapidez com que as bolsas vinham se recuperando desde o início do ano. Assim, a volta da crise europeia ao centro das atenções é também um "bode expiatório" para justificar esses movimentos, nas palavras de André Perfeito, economista-chefe da corretora Gradual Investimentos:
- As taxas de retorno dos títulos espanhóis vêm subindo desde fins de março, mas nada comparado aos níveis de novembro passado.
Na análise do economista, o problema econômico da Europa é grave e demorará a ser resolvido. Mas o problema financeiro, relacionado à capacidade de os países pagarem suas dívidas, foi reduzido com a atuação do Banco Central Europeu (BCE).
Ontem, apenas 12 das 69 ações que integram o Ibovespa subiram. A queda foi puxada pelos papéis mais negociados. OGX Petróleo ON (ordinária, com voto) caiu 7,26% (R$ 13,16), maior queda do índice. Também perderam as ON da construtora PDG (6,35%, a R$ 5,31) e as preferenciais (PN, sem voto) da Petrobras (1,85%, a R$ 21,19) e da Vale (1,1%, a R$ 40,32).