A valorização de 10% do dólar frente ao real no segundo trimestre deixou marcas negativas no balanço trimestral das siderúrgicas brasileiras, segundo analistas que acompanham o setor. Embora o real mais fraco possa incrementar algumas linhas operacionais, a expectativa é a de que o resultado final tenha sido prejudicado pelo câmbio. Com dívida em dólar, as companhias devem apresentar piora dos resultados financeiros.
Segundo analistas, a Usiminas deve mais que dobrar seu prejuízo, passando de R$ 87 milhões no segundo trimestre do ano passado para R$ 228 milhões no mesmo período deste ano. A siderúrgica mineira inaugura a temporada de balanços do setor, na sexta-feira. Para a CSN, as projeções variam de prejuízo de R$ 629 milhões (na previsão do J.P.Morgan) a lucro de R$ 271 milhões (na estimativa do Itau BBA). A Gerdau, por sua vez, deve apresentar resultado positivo. Na média, os analistas esperam lucro de R$ 207 milhões, 61% inferior ao resultado do segundo trimestre do ano passado.
Os números levam em conta as estimativas de seis casas de análise: J.P.Morgan, Bank of America Merrill Lynch, BTG Pactual, Itaú BBA, Goldman Sachs e Citi, que fez projeção apenas para resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda).
No topo do balanço, os analistas estimam que Usiminas e Gerdau apresentarão ligeiro aumento de receita (de 1%), para R$ 3,3 bilhões e R$ 10 bilhões, respectivamente. Em geral, comentam que houve leve melhora nos volumes e nos preços. Já a CSN deve divulgar uma redução de 9% na comparação com o segundo trimestre de 2012, para R$ 3,78 bilhões.
As instituições financeiras projetam Ebitda de R$ 964,7 milhões para a CSN, com queda de 13,9% na comparação anual. Na Gerdau, o recuo deve ficar em 10,3%, para R$ 1,12 bilhão, conforme a média das projeções. Já a Usiminas deve reportar aumento de 70,5% no Ebitda, para R$ 395,7 milhões.
Na avaliação do BTG Pactual, enquanto a variação cambial pesará na última linha do balanço das siderúrgicas nacionais no segundo trimestre, os resultados operacionais poderão levar a uma revisão para baixo das expectativas anuais. "As perspectivas para o setor permanecem sombrias, embora o risco de queda das ações seja limitado devido às correções substanciais de preço neste ano (na média, de 38,7%)", escreveram os analistas Edmo Chagas, Antonio Heluany e Gregory Goldfinger.
Para eles, o investidor deveria permanecer cauteloso em relação aos papéis de siderúrgicas até que existam claras indicações de melhora de preços e margens, o que "não é esperado no curto prazo".
Os analistas do Citi também estão cautelosos com o setor, considerando que a demanda por produtos siderúrgicos seguirá fraca no Brasil e os múltiplos das empresas estão elevados. A desvalorização do real, acrescenta o Itaú BBA, deve continuar a elevar a dívida em dólar das empresas. No entanto, os analistas do banco destacam que, no terceiro trimestre, o câmbio pode contribuir para elevar os ganhos das companhias com suas exportações e reduzir a competitividade do aço importado.
O J.P.Morgan, por outro lado, prevê recuperação dos resultados já no segundo trimestre, especialmente para Gerdau e Usiminas. A CSN, segundo o banco, deve mostrar melhora parcial da rentabilidade perdida no primeiro trimestre, na esteira de questões operacionais no negócio de mineração.
Para a Usiminas, o Citi espera volume de vendas estável, mas com melhora no mix, resultado do crescimento no mercado doméstico e da redução nas exportações. Marcus Asssumpção e André Pinheiro, do Itaú BBA, concordam e calculam que a empresa teve 85% de suas vendas no mercado brasileiro, com preços levemente maiores. Em média, os preços praticados pela siderúrgica tiveram aumento entre 1% e 2% em relação ao trimestre anterior, diz o Citi.
Além da melhora dos preços, o BTG destaca que a Usiminas deve trazer custos inferiores na comparação trimestral. O impacto da variação cambial, porém, deve mais que compensar esses ganhos, por isso as estimativas são de prejuízo.
No caso de Gerdau, o BTG aponta que a siderúrgica reduziu seus preços nos Estados Unidos, após queda nos preços da sucata, numa tentativa de recuperar participação de mercado. O BofA Merrill Lynch espera ainda que maiores custos nas operações americanas prejudiquem as margens da empresa, apesar de uma recuperação de 5,5% nos volumes.
No Brasil, segundo os analistas do BTG, as operações da empresa ainda serão afetadas por custos decorrentes de parada para manutenção no primeiro trimestre. "Embora a Gerdau seja impulsionada pelo real mais fraco, acreditamos que a melhora dos ganhos vai decepcionar e a ação deve refletir esse cenário", dizem.
O Itaú BBA, por sua vez, prevê uma melhora significativa no resultado operacional da empresa, puxado por melhores preços no Brasil e maiores volumes na divisão de aços especiais. Os analistas afirmam ainda que a empresa também teve uma melhora em seu mix de vendas, com 84% do total destinado ao mercado interno, ante 79% no primeiro trimestre.
Já a CSN poderá trazer novas surpresas em termos de resultado em razão das "incertezas que rondam o negócio de mineração", conforme o BTG. Apesar de maiores volumes, preços mais baixos do minério de ferro pesaram para a companhia no segundo trimestre. O Itaú BBA estima um aumento de 36%, para 4,5 milhões de toneladas de vendas da commodity, mas com preços 10% mais baixos do que no segundo trimestre de 2012.