Mais investidores decidiram tirar férias em julho do que normalmente ocorre neste mês de recesso escolar, sobretudo no mercado de ações. Segundo especialistas, a enorme indefinição gerada pela continuidade da crise europeia e o enfraquecimento das economias da China e dos Estados Unidos fez com que muita gente "fechasse a loja para balanço". Sem apostas firmes para o movimento do mercado, boa parte dele arrumou as malas e abandonou as mesas de operação.
Os meses de julho tradicionalmente mostram volumes financeiros mais fracos, tanto nas bolsas do Brasil quanto no exterior, em função das férias no Hemisfério Norte. Mas as reclamações de operadores em relação à baixa liquidez deste julho de 2012 são mais fortes. E eles têm razão. A queda de volume financeiro neste mês, até o pregão do dia 24, é a maior desde 2008.
A média diária negociada neste mês mostra retração de 18,5% na comparação com o primeiro semestre, segundo levantamento feito pelo Valor com base em números da Economatica, que levam em conta apenas o mercado padrão, à vista. O giro médio de julho está em R$ 5,108 bilhões, ante R$ 6,278 bilhões de janeiro a junho.
Em 2011, por exemplo, a queda foi de 10,3%. Julho registrou R$ 5,115 bilhões, ante R$ 5,708 bilhões dos seis primeiros meses.
No ano anterior, a queda foi maior e chegou a 15%, ou R$ 4,862 bilhões, para média anual de R$ 5,729 bilhões.
"O momento é bastante atípico, já que ninguém sabe até quando a crise econômica mundial vai durar, ou se haverá agravamento", diz o chefe de análise da XP Investimentos, Rossano Oltramari. "O mercado de capitais está parado, congelado", continua. "A aversão a risco é enorme e as incertezas são tantas que os investidores se retraem."
Contribuem para a redução de liquidez as dúvidas do mercado sobre o futuro do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro. A indefinição é tão grande que faz os gestores evitarem fazer previsões para o nível do Ibovespa no fim do ano. Na dúvida, os administradores de carteiras preferem aguardar o final da safra de balanços do segundo trimestre para fazer novos cálculos de preços de ações.
Oltramari, da XP Investimentos, lembra que a retração de liquidez também ocorre com as empresas, que deixam de captar. "Não vemos emissões de ações novas, nem subsequentes", comenta. De fato, segundo números da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), apenas cinco companhias fizeram ofertas primárias de ações no ano, nas quais há captação de dinheiro novo. A maioria ocorreu em abril e junho, nenhuma em julho. No meio do caminho, três companhias anunciaram a vinda ao mercado, mas desistiram. Seabras, Isolux e Brasil Travel suspenderam captações primárias.
Ontem o Ibovespa teve seu melhor pregão do mês, com apreciação de 2,65%, a 54.002 pontos.
A sessão começou já positiva, puxada por indicadores econômicos americanos e também por declaração do presidente do BCE, Mario Draghi, sobre o fato de a moeda comum europeia ser uma decisão "irreversível". A onda positiva foi reforçada pelo ambiente doméstico, com notícias relacionadas às empresas.
Nesse quesito, a Vale foi protagonista. Depois de abrir em baixa e chegar à mínima de R$ 33,92, o papel PNA da mineradora recuperou o fôlego no início da tarde e passou a subir, chegando à máxima de R$ 35,60. No fim da sessão, a ação cravou R$ 35,39, alta de 0,76%. A ação ON subiu 1,23%.
Ainda entre as ações mais negociadas, Petrobras PN subiu 1,36%. A petrolífera anunciou que aumentou em 16,7% a produção de petróleo na Argentina no segundo trimestre. No mesmo setor, OGX ON subiu 1,39% para R$ 5,10.
Entre as maiores altas do dia, Banco do Brasil ON subiu 6,96%. De acordo com relatório de crédito divulgado pelo BC, em junho passado os bancos públicos passaram a deter 45% do mercado de crédito no país, ante 42% um ano atrás meses atrás.
Natura ganhou 5,08%, a R$ 51,70, maior cotação desde sua abertura de capital em 2004.
Entre as seis ações que recuaram, apareceu o papel da Cielo, que perdeu 2,61%, para encerrar cotada a R$ R$ 61,00.