Embora lenta, a recuperação da atividade doméstica já foi suficiente para fazer com que o déficit brasileiro em transações correntes com o exterior rompesse a barreira dos 3% do PIB, algo que não ocorria desde julho de 2002. No acumulado em 12 meses até abril, as despesas internacionais líquidas do país com comércio, serviços, transferências unilaterais e de renda, que compõem essas transações, atingiram o equivalente a 3,04% do PIB.
O déficit de abril, especificamente, foi mais alto que o projetado. O BC esperava que, abatidas as receitas, o valor dessas despesas ficasse em US$ 6,4 bilhões no mês. Efetivamente, ficou em US$ 8,318 bilhões.
Além de romper uma barreira que não ultrapassava há quase 11 anos, a insuficiência de receitas internacionais correntes do país não está mais sendo totalmente financiada com o tipo de capital estrangeiro considerado de melhor qualidade. Pelo segundo mês consecutivo, na leitura em 12 meses, o ingresso líquido de investimentos estrangeiros diretos (IED) ficou abaixo do déficit corrente, cobrindo 91,54% dele em abril ante 94,85% de março.
No primeiro quadrimestre, a distância foi ainda maior, pois os US$ 18,976 bilhões de IED que entraram no país foram suficientes para financiar apenas 57,19% do saldo negativo das transações correntes, de US$ 33,176 bilhões.
A deterioração da conta de comércio exterior respondeu sozinha por 60% dessa piora. O saldo da balança comercial, positivo em US$ 3,3 bilhões no primeiro quadrimestre de 2012, foi negativo em US$ 6,151 bilhões no acumulado do ano.
Afetadas pelo baixo crescimento da economia global, as exportações caíram de US$ 74,646 bilhões para US$ 71,468 bilhões na comparação entre os quadrimestres. Ao mesmo tempo, as importações subiram de US$ 71,346 bilhões para US$ 77,619 bilhões.
"O fato é que estamos importando mais", disse Tulio Maciel, chefe do departamento econômico do BC, ao destacar que a queda das vendas ao exterior não explica toda a piora na balança. Ele atribuiu o aumento das compras de mercadorias do exterior à melhora da atividade interna. O aquecimento da economia doméstica gera mais demanda por bens e serviços internacionais, explicou.
O câmbio, desta vez, não ajuda a justificar a piora da conta de comércio, pois o dólar esteve mais caro no primeiro quadrimestre deste ano que em 2012, reconheceu Maciel. Ele lembrou que, no fim de abril de 2012, a moeda americana era cotada a R$ 1,85 e em abril já estava em torno de R$ 2,00.
Tampouco pode-se atribuir ao câmbio a expressiva elevação observada nas remessas de lucros e dividendos ao exterior, segundo principal item de aumento dos gastos internacionais correntes. O fluxo líquido de tais remessas alcançou US$ 9,516 bilhões no acumulado de 2013 até abril. Isso significa variação de US$ 3,622 bilhões em relação a igual período de 2012 e explica quase um quarto do crescimento total do déficit corrente.
Também nesse caso Maciel entende que os números foram influenciados pela atividade. Uma economia mais aquecida proporciona melhores resultados às empresas e, consequentemente, maior remuneração a acionistas e sócios não residentes no país. O dado do BC considera a remuneração tanto a estrangeiros que investiram diretamente nas empresas quanto a não residentes que adquiriram ações de empresas brasileiras em bolsa de valores.
A segunda explicação de Maciel para o aumento das remessas de lucros e dividendos é o crescimento da base de remuneração, incrementada pelo continuidade de fluxos líquidos positivos de IED. Só em 2012, as entradas líquidas para aquisições diretas de participações, parte do IED que gera esse tipo de renda, somaram US$ 52,230 milhões. O IED é composto também pelo fluxo de empréstimos entre matrizes de multinacionais e suas filiais no Brasil, os créditos intercompanhias. Mas esses geram gastos internacionais com juros e não com lucros.
A conta de juros internacionais também ficou mais pesada. Os pagamentos líquidos ao exterior aumentaram US$ 914 milhões em relação ao primeiro quadrimestre de 2012, a US$ 4,201 bilhões no acumulado de 2013. O motivo foi principalmente o aumento da dívida externa e, consequentemente, de base de incidência de juros. A dívida externa do país chegou ao fim de 2012 em US$ 312,89 bilhões e a abril deste ano em 322,18 bilhões. O maior endividamento foi favorecido pela alta liquidez dos mercados internacionais.
Para maio, o BC espera arrefecimento do déficit em transações correntes como um todo, projetado em US$ 5,2 bilhões. Mas, de novo, o IED não vai cobri-lo integralmente. Pelas projeções da autoridade monetária, o IED será de US$ 2,8 bilhões, dos quais US$ 1,5 bilhão confirmados até o dia 20.