Com mais uma semana de saída de dólares, o fluxo cambial em maio, até o dia 25, estava negativo em US$ 2,763 bilhões. Por ora, esse é o pior desempenho mensal desde junho de 2010.
Tal saldo é composto por uma entrada comercial de US$ 2,288 bilhões e uma saída financeira de US$ 5,051 bilhões. Pior desempenho da conta financeira desde dezembro de 2008.
Entre 21 e 25 de maio, o saldo foi negativo em US$ 1,253 bilhão. Destoando do que vinha ocorrendo até então, a conta comercial foi a que registrou déficit, de US$ 1,398 bilhão, enquanto a conta financeira, que vinha mostrando saídas contínuas, computou ingresso líquido de US$ 145 milhões.
No acumulado de 2012 até o dia 25, o fluxo cambial é positivo em US$ 22,553 bilhões. Desse bolo, US$ 19,748 bilhões ingressaram no país via conta de comércio, enquanto US$ 2,805 bilhões vieram pela conta financeira.
Em igual período do ano passado, o fluxo somava US$ 43,939 bilhões. E a composição era predominantemente financeira, com US$ 31,056 bilhões. A conta comercial aparecia com superávit de US$ 12,883 bilhões.
O salto de 36% nas importações na semana passada foi determinante para colocar o fluxo comercial brasileiro no vermelho. O resultado foi acentuado pelo tombo de 34% na contratação de câmbio para exportação, o que consolidou o fluxo comercial negativo, após superávit de US$ 1,922 bilhão na semana encerrada dia 18.
Por trás desse movimento, explicaram operadores, está a expectativa de que o dólar possa engatar uma nova série de altas. "No caso do exportador, quem não precisa fechar embarque logo espera uma taxa de câmbio mais favorável. Já o importador aproveita aquele momento de queda do dólar para comprar, porque ainda teme uma alta da moeda", disse o operador de câmbio de um banco com atuação no comércio exterior.
De acordo com os números do BC, a contratação de câmbio para importação na semana passada saltou 36,08% em relação à semana anterior, para US$ 5,167 bilhões. "Está muito claro que o importador aproveitou a queda do dólar e vai aproveitar mais se a moeda continuar caindo", disse o operador de câmbio de um banco em São Paulo.
Na semana passada, o dólar caiu 1,19%, fechando a R$ 1,995. Foi a primeira queda semanal em seis e ocorreu após a forte atuação do Banco Central (BC). Em seis sessões, o BC ofertou mais de US$ 12 bilhões em contratos de swap cambial (que equivalem a uma venda futura da moeda americana), conforme o dólar ameaçava superar a marca de R$ 2,10.
As intervenções do BC sugerem que a rápida valorização do dólar passou a preocupar até mesmo o governo, devido à possibilidade de um repasse do dólar mais caro aos preços.
Já a contratação de câmbio para exportação despencou 34,08% na mesma base de comparação, a US$ 3,770 bilhões.
As concessões de Adiantamento sobre Contrato de Câmbio (ACC) - operação de crédito por meio da qual o banco adianta o valor em moeda nacional ao exportador, total ou parcial, quando há contratação de câmbio antes do embarque da mercadoria - recuaram para US$ 735 milhões na semana passada. O número representa uma queda de 38,08% em relação ao valor de US$ 1,187 bilhão em ACC concedidos na semana anterior.
Para os dois profissionais, para que a conta comercial volte a ficar positiva, o mercado teria de identificar claramente um "teto" para o dólar e a moeda americana deveria oscilar nesse limite para que os exportadores se sentissem novamente atraídos pela cotação mais elevada.
No entanto, eles ponderam que mesmo com o dólar acima de R$ 2 e menor volatilidade, o agravamento da crise externa pode pesar sobre o fluxo comercial. "Se não tiver demanda de fora, não tem dólar a R$ 2 que dê jeito", comentou um deles.
"O fraco resultado do fluxo de maio vem em meio à intensificação das preocupações com a Europa", escreveu em relatório Diego Donadio, do BNP Paribas.