O mercado externo mais uma vez foi a influência predominante sobre o câmbio brasileiro. O bom humor de investidores com a possibilidade de novo afrouxamento monetário na Europa levou o dólar a fechar em queda de 0,49%, a R$ 2,014, apagando quase todo o ganho acumulado na semana. A melhora no fluxo de recursos para o país, apontada por dados divulgados ontem pelo Banco Central, e a proximidade com o teto da banda cambial informal da autarquia também contribuíram para a alta do real.
"O cenário lá fora foi mais positivo, o que beneficiou outras moedas em relação ao dólar e o real seguiu esse movimento", disse Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco WestLB.
Segundo o economista, os dados apresentados ontem pelo BC na Nota à Imprensa sobre o Setor Externo mostraram que, apesar da deterioração maior que a esperada em transações correntes e investimento estrangeiro direto (IED), os investimentos em portfólio tiveram bom desempenho. "O fluxo para investimento em carteira foi forte, e o mercado está vendo a possibilidade de que esse fluxo continue bom."
Segundo o BC, o fluxo cambial está positivo em US$ 1,110 bilhão em abril até o dia 22. Apenas no dia 15, houve entrada líquida de US$ 3,278 bilhões, o que ajudou a inverter o fluxo acumulado no mês de negativo para positivo. No ano, porém, ainda há déficit de US$ 983 milhões. A Nota à Imprensa do BC informa que, em março, os investimentos de estrangeiros em portfólio chegaram a US$ 9,53 bilhões.
Outro fator que contribuiu para a queda de ontem foi a proximidade da moeda com o teto da banda informal do BC, que o mercado acredita ser de R$ 2,03. Segundo profissionais do mercado, com o dólar perto desse patamar, investidores se sentem mais "confortáveis" em apostar na valorização do real, uma vez que a expectativa de intervenções do BC em caso de excesso reduz o espaço para perdas.
O câmbio também operou à espera da divulgação, hoje, da ata da última reunião do Comitê de Política Monetária, quando o BC elevou a Selic em 0,25 ponto percentual, metade do ajuste esperado pelo mercado.
"Se o BC adotar um tom menos incisivo contra a inflação, o dólar vai subir amanhã [hoje] e, dependendo da intensidade da alta, a gente vai ver o BC atuando", disse o tesoureiro de um banco.
Os juros negociados na BM&F fecharam com tendência predominante de alta pela primeira vez em seis sessões, influenciadas pela alta do rendimento dos títulos do governo americano, os Treasuries, no mercado externo.