A volatilidade no mercado de juros futuros chama atenção nesses últimos dias. Queda acentuada de taxas na segunda-feira, um repique de alta na terça-feira e firme ajuste de baixa no pregão de ontem.
Agora, o que mudou no cenário local e externo em três dias para justificar tamanha oscilação nas taxas? Segundo economistas e operadores absolutamente nada.
Nesse intervalo não houve reviravolta no quadro externo, nem tampouco nenhuma declaração bombástica de autoridades locais ou dados de inflação e atividade relevantes.
O cenário prospectivo de política monetária está relativamente bem definido. O país está em fase de ajuste fino da taxa básica de juros conforme o ciclo de afrouxamento monetário se aproxima do fim e as apostas divergem umas das outras em 0,25 ponto ou 0,50 ponto percentual. Por ora, é essa briga que parece movimentar o pregão.
Segundo a economista-chefe da Icap Brasil, Inês Filipa, está claro que o ciclo de corte está próximo do fim e o que se discute é se será em agosto ou outubro. "O mercado está apertado para fazer suas posições e qualquer notícia gera volatilidade", diz.
Para um operador, como falta uma diretriz para o mercado, os investidores não estão mais montando posições e ficando com elas, mas sim girando compra e venda. O menor volume dos últimos dias também contribui para oscilações mais acentuadas.
Desde o segundo semestre do ano passado, a estratégia vencedora foi a de venda. Quem ficou com o governo e com o Banco Central (BC) fez fortuna com posição comprada em DI. Um ano atrás, o contrato para janeiro de 2013 tinha taxa de 12,70% e ontem caiu para 7,36%. O vencimento para janeiro de 2017 saiu de 12,57% para 8,87%.
Queimada toda a essa "gordura", os agentes começam a questionar se há ainda o que ganhar com posição vendida. No entanto, diz um gestor, não há motivo para formar uma aposta de que as taxas vão para cima. "Dentro de um cenário desses, a volatilidade fica alta", diz.
Apesar de enxergar algum risco de alta para a inflação em 2013, conforme a economia local retomar o dinamismo, o especialista pondera que o quadro externo é imprevisível. Qualquer piora forte por lá derruba as taxas por aqui.
Outra incógnita é por quanto tempo o BC pode manter a Selic estável e que grau de atividade e inflação poderia levar a autoridade monetária a subir o juro.
Para alguns agentes, a resposta é nunca. A queda de juros no Brasil não seria revertida. O governo vai lançar outras medidas para escapar de ajustes de alta na Selic. Para outro grupo, o BC pode relutar, mas não escapa de subir a Selic, já que a inflação é fenômeno enraizado na estrutura econômica do país e possíveis reformas que venham a ser anunciadas levam anos para ter efeito.
No câmbio, a explicação dos últimos dias está mais linear. A formação de preço mostra relação com o quadro externo. Ontem, o custo de financiamento da Espanha e Itália cedeu um pouco, o que abriu espaço para o euro e outras moedas respirarem depois das quedas recentes.
Por aqui, o dólar comercial encerrou o dia com baixa de 0,34%, valendo R$ 2,037.
O giro estimado para o interbancário ficou em US$ 1,9 bilhão. De acordo com um operador, duas corretoras estrangeiras foram destaque na venda de dólar, o que sugere ingresso de recursos externos. Essa percepção foi respaldada pelo comportamento do cupom cambial (juro em dólar), que apontou para baixo.