"O status do Ibovespa como referência do mercado brasileiro não está em xeque." A declaração do presidente da BM&FBovespa, Edemir Pinto, enterrou os sonhos de muitos participantes do mercado que ainda vislumbravam a possibilidade de a bolsa realizar mudanças no principal e mais antigo termômetro de ações brasileiras.
Mesmo após completar 45 anos de existência neste ano, a metodologia de composição da carteira teórica do índice não será alterada, disse Edemir, durante entrevista coletiva para comentar o balanço do primeiro trimestre da BM&FBovespa.
Segundo ele, a bolsa está ciente de todas as críticas do mercado à metodologia. Tanto que foi criado um grupo de estudo para debater o tema. "Sabemos que o mercado fala em uma "nova bolsa" [um grupo de ações cuja performance tem superado o Ibovespa]. Concordamos que o mercado brasileiro mudou muito nesses 45 anos, em tamanho e diversidade. Mas não temos a pretensão de mudar a metodologia do Ibovespa", reiterou o presidente da bolsa.
Edemir explicou que o grupo de estudo foi montado há um ano para avaliar a elaboração de novos índices, o que permitirá ao mercado elaborar novos produtos e fundos atrelados a esses índices (ETFs).
"Nesses 45 anos criamos outros índices como o IBX 50 e o IBX 100. Esse grupo está olhando a história de outras bolsas. Talvez sejam criados novos índices. Há bolsas com mais de 300 índices, capazes de acompanhar o desempenho de determinados setores ou blocos de empresas", argumentou Edemir.
O universo limitado de ações - hoje são 71 - e o peso desproporcional de alguns setores em relação à realidade da economia brasileira são algumas das críticas feitas por analistas de mercado. "O Ibovespa representa um universo limitado de empresas e possui uma metodologia que privilegia a volatilidade", aponta o estrategista da Fator Corretora, Paulo Gala. "Não é um bom indicador do que acontece no mercado brasileiro hoje."
O analista Emerson Leite, co-responsável pela área de renda variável para América Latina do Credit Suisse, destaca a desproporção entre o peso das ações da Petrobras, que produz 1,9 milhão de barris por dia e possui capacidade de refino de 2 milhões de barris/dia, e a OGX, que produz apenas 13 mil barris diários. Enquanto Petrobras ON e PN representam 10,5% do Ibovespa, OGX tem 5% do índice (veja entrevista na página B9).
"Isso é uma anomalia do índice Bovespa, cuja fórmula leva em consideração o número de negócios e o volume financeiro negociado. Não há consideração acerca de capitalizacão de mercado ou do "free float" [ações em circulação no mercado]", afirma Leite. "OGX, que tem um giro financeiro forte e preços em queda, apresenta um número de negócios em elevação e consequentemente ganha peso no índice. Isso cria distorções indesejáveis."
Para o analista do Credit Suisse, caberia uma discussão para se aperfeiçoar o índice. "Tal como está, ele perderá relevância." Enquanto o Ibovespa acumula perda de 9,6% neste ano, outros índices compilados pela BM&FBovespa, como o Small Caps (que representa empresas de menor porte) e o IBrX-50 (que considera as 50 ações mais negociadas, ponderadas pelo valor de mercado), registram baixas bem menores, de 4,3% e 1,6%, respectivamente.
Depois de quase duas semanas de euforia, as vendas voltaram a predominar na Bovespa nos últimos dias. Na sexta-feira não foi diferente, tanto que a bolsa brasileira ignorou mais uma vez a alta de seus pares americanos, que fecharam em novos recordes.
A safra de balanços do primeiro trimestre trouxe resultados fracos, entre eles, OGX. O papel fechou em baixa de 1,21%, a R$ 1,63. Já o Ibovespa recuou 0,61%, aos 55.107 pontos, e registrou perda de 0,69% na semana.